segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Lula, nem ótimo, nem bom

Roberto Macedo - O Estado de S.Paulo

Se ouvido na última pesquisa sobre o desempenho do ex-presidente Lula, eu estaria entre os 17% que o viram de regular para baixo. Ao estudar, fui ensinado a não me iludir com aparências, e o que predomina é uma versão de ótimo e bom que não corresponde aos fatos. É evidente que a economia esteve melhor sob Lula. Mas dizer que foi "por causa dele" é outra história. Surfou em duas ondas muito favoráveis. A externa, um crescimento ímpar da economia mundial, trouxe não só um melhor desempenho do produto interno bruto (PIB), mas também a superação de grave problema com que o Brasil se deparava havia muitas décadas, a tal escassez de divisas, responsável por muitas crises econômicas. Hoje sobram reservas e a última crise, que veio em 2008, não foi por falta delas, mas por contenção do crédito e de nossas exportações. O Brasil então escapou ao tradicional choque externo, com forte desvalorização cambial, aumento da inflação, dos juros, da dívida publica e pedido de socorro ao FMI.

A outra boa onda foi no plano interno, vinda dos governos Collor, Itamar e FHC, com renegociação da dívida externa, ajustes nas finanças públicas, inclusive privatizações, e abertura da economia, dando-lhe maior estabilidade e eficiência. Lula nunca reconheceu bem essas boas ondas. Sofismando, toma o que veio de bom depois dele como resultado de sua ação. Como corolário, o ruim não é com ele.

Vejo-o como um peão em rodeios. Neles, quem monta não recebe pontos se o animal não pula. Ora, Lula quase que só montou bichos mansos. Quando a crise pegou, o corcoveio da economia trouxe-o ao chão, mas aí veio com a conversa fiada da marolinha. Fez que não viu o vagalhão, que custou ao País perto de R$ 200 bilhões em crescimento perdido.

Também pode ser comparado ao comandante de um barco encalhado por uma estiagem, no leito seco de um rio. Vieram as chuvas, o barco desencalhou e o comandante diz que foi obra dele.

O número final do crescimento do PIB em 2010 deve ficar perto de 7%, e certamente se vangloriará disso, mas esquecendo o buraco de 2009, o que levará a uma taxa média próxima de 3,5% nos dois anos, ridícula se comparada à de países realmente empenhados em crescer, como a China e a Índia, a primeira, aliás, com suas importações ajudando muito o Brasil. Ao administrar, foi um desastre na área de pessoal, contratando mais sem maiores critérios, expandindo cargos providos sem concurso - em cuja elite hoje predominam companheiros sindicalistas -, e pagando salários bem maiores que os do mercado de trabalho, agravados pela aposentadoria privilegiada, que não conseguiu resolver. Também tornou obscuras e mais frágeis as contas governamentais, até mudando critérios de avaliação do superávit primário e expandindo fortemente a dívida bruta, além de usar boa parte do primeiro dinheiro do pré-sal para tapar buracos nessas contas.

Demonizou as privatizações, mas pouco fez para ampliar com vigor a capacidade de investimento da administração pública. Por essa e outras razões, são indispensáveis investimentos privados para a provisão de serviços públicos, mas relutou em fazer isso. Um caso emblemático está de novo nas manchetes, o crônico estrangulamento dos principais aeroportos, que não conseguiu resolver em dois mandatos. O nome disso não é competência. Ao sair, disse que foi fácil governar, mas a facilidade veio das duas ondas citadas, e também porque não enfrentou seriamente gravíssimos problemas. Como na infraestrutura, na saúde, na segurança e na previdência, entre outros. Também disse que pode ensinar a governar, mas quem precisa de ajuda é porque está difícil. Colocar gente no Bolsa-Família é fácil, com a economia gerando mais impostos, mas promover bolsistas via educação e trabalho é difícil, e não teve a mesma atenção.

Aliou-se ao que de pior existe na política brasileira. Emblemático disso foi que seu outrora inimigo político José Sarney fez questão de acompanhá-lo na viagem de saída. Na política externa, aliou-se a quem se marca pelo desrespeito à democracia, aos direitos humanos e até pelo cultivo de coca, optando por um terceiro-mundismo com ranço de antiamericanismo da esquerda de 50 anos atrás. Disse ser "gostoso (...) terminar (...) vendo os EUA, (...) a Europa (...) o Japão em crise", ignorando que com isso o Brasil perde exportações. No plano ético, procurou justificar o injustificável, como o mensalão e outros deslizes de companheiros.

Foi competente mesmo na arte da comunicação. Aí rivalizou com Chacrinha, tido como o maior comunicador da TV brasileira, que fez escola ao dizer que "quem não se comunica se trumbica". Lula tornou-se mestre ao praticar o corolário: quem se comunica se edifica. Só faltou jogar bacalhaus para as plateias.

Nessa comunicação foi auxiliado pela complacência de parte da mídia, também por conveniências, pois, conforme matéria recente da Folha de S.Paulo, ampliou de 499 para 8.094 o número de veículos de comunicação que recebem verbas de publicidade do governo federal. Outro aspecto da complacência é que Lula foi mais objeto de notícias do que de análises, nas notícias predominando sua "experteza" como comunicador. Terminou o mandato com mais um descaso pelo comportamento republicano, com a cumplicidade da companheira substituta. Como cidadão incomum, deixou Brasília no avião presidencial, posando antes como Romário na janela do piloto, quando nosso time retornou do tetra de 1994. Só faltou a Bandeira.

Vangloria-se de suas raízes humildes, de seu passado de operário, mas hoje se vê como um iluminado, bem acima dos que o elegeram e o endeusaram. Fiel mesmo às suas origens, Harry Truman, ao deixar o governo nos EUA, em 1953, saiu dirigindo seu carro, acompanhado apenas pela esposa.


Roberto Macedo é Economista, Professor Associado à FAAP e vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo.

Acreucho: Sempre digo e o futuro mostrará, que o Brasil, como o Acre não estão na situação atual "por causa de seus governantes", está porque o mundo mudou, tudo mudou, tudo melhorou! Não há milagreiros, nem detentores do "bem e do mal". Prova disso é que o poder petista no Acre, por exemplo,  encontra-se em franca decadência, há descontentamento dentro da própria cúpula da Frente, eles não conseguem se entender mais. Binho não gostava nem entendia os políticos, por isso foi banido, no mesmo caminho está Angelim, segundo dizem, com a Prefeitura quebrada e sem o apoio necessário. No Acre é muita politicagem pra pouco dinheiro. Mas, em breve o feudo será substituído por uma verdadeira democracia. 

Um comentário:

  1. Quem escreveu é doido de varrer pedra.
    Surfou em duas ondas muito favoráveis.????????????
    O mundo quebrou. A Europa está quebrada e os EUA também.!!!!!!!!
    O Brasil então escapou ao tradicional choque externo, com forte desvalorização cambial, aumento da inflação, dos juros, da dívida publica e pedido de socorro ao FMI.???????
    O Brasil emprestou dinheiro ao FMI........
    O número final do crescimento do PIB em 2010 deve ficar perto de 7%, e certamente se vangloriará disso, mas esquecendo o buraco de 2009, o que levará a uma taxa média próxima de 3,5% nos dois anos, ridícula se comparada à de países realmente empenhados em crescer, como a China e a Índia, a primeira, aliás, com suas importações ajudando muito o Brasil.
    Aqui duas coisas a serem ditas: ridiculo é o crescimento?? negativo da Europa e Eua no mesmo periodo, e que realmente tem razão a China é um grande parceiro comercial conquistado pelo governo do Presidente Lula.
    Pode achar o governo ruim mas tem que ser correto.
    Se falasse que o governo priorizou
    alguns em detrimento de outros eu concordaria (o Povo ao invés dos ricos), que deveria ter sido mais energico com os pilantras como José Dirceu, a filha do Serra que montou uma empresa de fachada com a filha do Dantas, com o proprio Dantas que continua usufruindo do poder central e outras tantas concordaria em genero numero e grau.

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