Mary Zaidan é jornalista.
Mesmo em ritmo muito aquém do que poderia e deveria, não há dúvidas que o Brasil é um país que cresce e aparece. Com economia estabilizada há mais de 15 anos, inflação sob controle, força de trabalho, vigor e capacidade empresarial ímpar, além de dotes naturais invejáveis, é uma nação com todas as credenciais para sentar-se entre as grandes.
Mas não as tem.
Falta-lhe o principal: apreço pelos valores morais, cada vez mais vilipendiados, inclusive pelo chefe maior da nação, a quem caberia comportamento exemplar.
Dele, vemos exatamente o oposto. Acoberta delitos e protege delituosos sob seu manto de popularidade. E, quando flagrado diretamente pela Justiça, não só volta a desrespeitar a lei, como ainda faz chacota das punições que recebe.
Sob a ótica do presidente Lula, companheiros que tentavam vender um dossiê contra adversários viraram simples “aloprados”. Mensalão travestiu-se de prática corrente, tática utilizada com sucesso para juntar todos no mesmo balaio, como se um crime pudesse ser perdoado porque há outros criminosos.
Por essas e outras, Lula ajudou a dilapidar o que ainda restava de reserva moral ao país e, pior, contribuiu para banalizar a corrupção.
Talvez esse seja um dos motivos para que esta praga que corrói o país desde sempre tenha adquirido dimensão tão assustadora nos últimos anos. Não restou pedra sobre pedra. Escândalos e roubalheira para todos os desgostos, em todos os cantos - Executivo, Legislativo, Judiciário e até no Ministério Público.
Deve também ter sido a inspiração para o discurso do pré-candidato do PSDB, José Serra, ao se despedir do governo paulista. Preferiu jogar luzes em valores essenciais a puramente exibir números de seus feitos. A candidata do PV, Marina Silva, que já carrega a aura da moralidade, vem na mesma balada. E a petista Dilma Rousseff, quer queira ou não, terá de fazê-lo.
Isso poderá enriquecer em muito o debate eleitoral, até então balizado em falsas premissas ideológicas, na pequenez do “nós contra eles” e na contabilidade de obras, as quais, há de se convir, não são benesses, mas obrigação de qualquer governo.
Está posta uma nova e imprescindível arena de combate em que os indicadores morais podem assumir maior importância do que medidores obreiros.
É fato que qualquer país sério repudia a condescendência com malfeitos e malfeitores. Neles, honestidade, ética e respeito jamais teriam chances de virar o centro do debate. São princípios básicos, obrigatórios a todos.
Mas é exatamente a falta desses substantivos que impede o desenvolvimento pleno do país.
Mais do que definir o tamanho do Estado – se mínimo, máximo, ativo -, a maior obra do futuro governo seria fomentar a lisura, inibir e punir corruptos. Criar o Estado do bem, onde as pessoas honestas possam acreditar em algo, já que, para elas, não há hoje chance alguma.
Essa sim seria a ressurreição de que o Brasil tanto necessita.
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