segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Bocalom diz que obra da BR-364 é "lavagem de dinheiro"


Candidato a candidato à sucessão do governador acreano Binho Marques, em 2010, pelo PSDB, Tião Bocalom faz pesadas críticas a Frente Popular durante visita a Cruzeiro do Sul, neste final de semana. Para o ex-prefeito de Acrelândia, "a BR-364 é uma lavagem de dinheiro", a história do petróleo no Juruá "é para enganar o povo" e a promessa de exploração da floresta "não passa de picaretagem". Ele declarou ainda ao jornalista Dílson Ornelas que a imprensa do Acre é cerceada e, por causa da dependência econômica com o estado, é controlada pelo governo.

Que percepção o senhor tem hoje do eleitorado em suas andanças pelo Acre?
Bocalom -
As oposições no Acre nunca tiveram tão unidas como agora. Estamos no momento novo da política acreana. A gente consegue juntar duas candidaturas majoritárias em um palanque só. Isso é fundamental porque nosso objetivo é um só. È a união em torno de um projeto para mudar o modelo que aí está, que não gerou os empregos prometidos, que não construiu casas populares.

No Vale do Juruá o governo investe em infraestrutura, construiu hospital, aeroporto, toca a BR 364, inicia a obra de uma ponte e se prepara para erguer um estádio de futebol. Mesmo assim o senhor acha que a população votará contra a Frente Popular?
Bocalom - O povo, não só do Juruá, mas de todo o Acre, sente-se o tempo todo intimidado, sente-se vigiado. A liberdade que todos deveríamos ter, a liberdade de expressão do funcionário público, da iniciativa privada, do grande e do pequeno, sofre pressão do governo. De uma forma ou de outra, o servidor público se sente vigiado, o comerciante todo o tempo é extorquido. Não tem condições de ampliar seus negócios. O produtor rural é perseguido também. Então eu não tenho dúvida nenhuma que hoje o grande sentimento é o sentimento de você não ter liberdade. Não adianta construir pontes, fazer estradas, estádio de futebol, se os mais humildes não têm uma saúde de qualidade. O poder público existe também para quem tem dinheiro, mas os que mais necessitam do serviço do poder público como saúde com qualidade, educação com qualidade, segurança com qualidade, quem é? São os mais humildes. Quem tem dinheiro paga uma escola para o filho, paga um segurança para botar na porta de casa. O que a gente precisa entender é que a população hoje, está exigindo coisas mais simples.

O senhor não acha que a conclusão da BR trará esses benefícios a todos?
Bocalom -
Sim, é ótimo construir uma estrada, ligar o povo do Acre, diminuir o custo de vida, mas o povo não é bobo e sabe que não se gasta R$ 4 milhões por quilômetro para construir uma estrada. O Amazonas tem estradas mais complicadas que a nossa para ser construídas e paga em torno de R$ 1,5 milhão por cada quilômetro de rodovia. O Acre é um dos estados que mais se endividou no estado e, no entanto, a qualidade de vida não melhorou.

Pela maneira como o senhor fala, precisamos perguntar se um possível governo do PSDB investigaria as obras da BR-364.
Bocalom - Nem precisaria porque já está tudo investigado pelo Tribunal de Contas da União. Não teve um contrato de 2007 e 2008 que o TCU não tenha condenado, inclusive à devolução do dinheiro. Acontece que a mídia está cerceada, infelizmente, principalmente em Rio Branco. Ela não divulga o que o TCU anda fazendo. Depois que o TCU exigiu a devolução de R$ 22 milhões em apenas dois contratos, e o Ministério Público entrou no jogo fazendo a denúncia, depois disso foram mais quinze contratos investigados em situações gravíssimas, mas a imprensa não divulga. Agora, se em dois contratos encontraram irregularidades de R$ 22 milhões, imagine em quinze contratos. Nós, gestores, precisamos gastar bem o dinheiro público, como faz Vagner Sales em Cruzeiro do Sul e como eu fiz em Acrelândia, sempre com obras feitas pela administração direta. Chega de encher a barriga de meia dúzia e ver o povo cada vez mais pobre.

O que ainda é possível se falar da BR-364, depois de tantos anos de esforço para a integração do Acre?
Bocalom -
Ela já começou errada, deveria ter seguido de Sena Madureira para Cruzeiro do Sul porque ficaria mais barato trazer os insumos (materiais), mas começaram daqui alegando que poderiam trazer os insumos pelo rio. Em 2002, em um encontro de prefeitos em Cruzeiro do Sul, tentaram nos convencer em um acampamento da Construmil, porque custava R$ 2,4 milhões cada quilômetro de estrada construída naquele momento. Diziam que a pedra chegava muito cara na obra e se naquela época a pedra chegava a R$ 800,00 por metro quadrado, porque hoje ela chega a R$ 440,00 em Feijó? Alguma coisa está muito errada. Montaram um grande circo em torno da BR-364 para beneficiar uma panelinha. Eu gostaria de saber se essa Construmil tem alguma experiência para construir estradas, porque todos os trechos que ela fez, um ano depois, sem passar tráfico pesado, a estrada está derretendo, está toda quebrada. Parece que tudo isso foi uma grande lavagem de dinheiro. Eles fazem a sub-base e a base e depois deixam que o inverno destrua tudo para que no ano seguinte tenham que fazer tudo novamente, e aí a estrada não sai nunca. Por que fazem isso? Deve ser para justificar o custo altíssimo da estrada. No Amazonas as estradas terminam muito mais rapidamente que aqui. Com um governo da oposição a obra dessa estrada vai ser concluída muito mais rapidamente.

O que fez o senhor sair da Frente Popular e observa a execução desse projeto hoje?
Bocalom -
Também sonhei com esse projeto, que era muito bonito. Quando o Jorge Viana foi na minha casa, acompanhado pelo meu amigo Normando Sales me convencer a voltar à política e dar apoio ao PT, foi exatamente aquele projeto que me convenceu. Ele dizia que no governo de Orleir Cameli só havia roubo. Acontece que no governo de Orleir se pagava R$ 240 mil por quilômetro na estrada que ia até Sena Madureira. E o Jorge Viana dizia que fazia a obra muito mais barato e no primeiro pedaço de estrada que fez, de Brasiléia a Assis Brasil, dividiu 52 quilômetros por 10 empresas e pagou R$ 340 mil por cada quilômetro. Fez mais caro do que fazia o Orleir, mas já em 2002 fez uma licitação e entregou o resto da estrada, cerca de 100 quilômetros, a uma empresa mineira e pagou R$ 1,15 milhão por cada quilômetro. Quando comecei a ver tudo isso e vi que o projeto que apresentei para o setor produtivo simplesmente não acontecia. O que vi foi que um grupo de pessoas dentro do governo, comandado por uma chefia, começou a se dar bem, embriagado por grandes negócios. Mas a população não quer grandes negócios, quer coisas simples, que liberdade para produzir com subsídios, como ocorre no mundo inteiro. Então em 2002 deixei a Frente Popular e voltei para a oposição porque não dava para apoiar alguém que não tinha compromisso com a sociedade. Esse governo não construiu sequer uma creche e é importante cuidar das crianças e dos idosos e não deixar os nossos jovens, como disse muito bem o deputado Walter Prado, virarem empregados do tráfico de drogas.

Qual será o seu modelo de governo, caso chegue ao governo?
Bocalom -
Muita gente diz que é muito fácil cuidar de uma cidade pequena como Acrelândia, mas eu quero dizer que não. Precisamos ter recursos financeiros, recursos humanos e ter boas intenções. Dos nove municípios recém criados no Acre o nosso foi o que mais se desenvolveu, tem uma política industrial que nem Cruzeiro do Sul tem. Lá melhoramos bem a educação, e Acrelândia teve o melhor desempenho na saúde em todo o Estado do Acre. Implantamos o sistema do Médico de Família em toda sua plenitude, com visitações aos doentes em suas casas. Isso a gente não vê em nenhum outro lugar do estado. É obrigação do governo estadual repassar todos os meses dinheiro para os municípios comprarem medicamentos e ele nem passa os remédios e nem passa dinheiro. Como governador, terei muito mais recursos financeiros e humanos.

O senhor, repetidas vezes, fala do vínculo da imprensa acreana com o governo, se isso existe de fato, de que maneira essa relação afeta a opinião pública e como seria a convivência com a imprensa em um possível governo do PSDB?
Bocalom -
Uma mentira falada muitas vezes acaba se transformando em verdade e é isso que esse governo tem feito, dizendo que está tudo bem. A imprensa acaba repetindo isso, porque o modelo de governo no Acre é ditatorial, deixando divulgar apenas o que interessa ao governo. Infelizmente a imprensa acreana, como a economia privada não tem força suficiente para patrocinar a imprensa, ela acaba ficando agregada ao governo e evidentemente ele acaba controlando-a. No nosso governo queremos sempre o contraditório e a imprensa é fundamental para se desenvolver um bom trabalho. Ela tem esse papel de apontar o que estiver errado e nós não podemos achar isso ruim. Precisamos apurar o que ela aponta e, se for verdade, devemos punir os culpados. A imprensa tem que ser parceira e não tem que ser aliada para falar só o que interessa ao governo. Ela tem que ser verdadeira e mostrar tudo que interessa a população e não apenas uma parte dos fatos.

No Acre uma grande parte da população é agregada ao governo. Muitos são funcionários públicos e dependem do estado para sobreviver, como reverter isso?

Bocalom - Infelizmente essa é uma cultura no Acre, porque não temos uma iniciativa privada fortalecida. O estado sempre funcionou como um pai, as famílias querem que seus filhos estudem para ter um emprego no governo, e isso tem que ser mudado. O estado não tem mais capacidade de admitir tanta gente, mesmo porque quem sustenta o estado são os impostos e a coisa pública não paga impostos, só recebe. É obrigação do estado incentivar a iniciativa privada a gerar empregos. Depois que o governo fechou a Alcolbras, dando enorme prejuízo aos empresários de outros estados que vieram investir aqui, todos os outros empresários ficaram com medo de fazer investimento no Acre, porque sabem que aqui não existe uma política de industrialização e geração de renda. Nem mesmo os empresários acreanos acreditam no governo do PT e estão investindo em outros estados, levando nosso dinheirinho para Rondônia e para Manaus (Amazonas).

Como o senhor pretende reverter isso?
Bocalom -
Estabelecendo políticas claras e definitivas para o empresário sentir mais confiança, porque ele precisa ter confiança, precisa saber que vai ganhar mais dinheiro. Hoje nenhum empresário confia nesse governo. Esse governo dizia que ia explorar o potencial da floresta, mas tudo não passou de picaretagem. Não vimos um único projeto que deu certo com o desenvolvimento sustentável, gostaria que alguém me apontasse pelo menos um. É picaretagem porque esses projetos beneficiam apenas uma minoria da panelinha do governo. Quando o governo entrou aí existiam mais ou menos 80 pequenas madeireiras que geravam emprego e hoje existem três ou quatro grandes e todas as outras foram fechadas. Agora criaram a Floresta do Mogno, mogno existe muito para ser explorado e a gente vai deixar essas árvores caindo todos os dias pelo vento e pelos bichos? A gente está perdendo o potencial que temos, sem qualquer exploração. Por que estão fazendo isso? Será que não é para entregar nas mãos de grandes empresas internacionais que daqui a pouco chegam para explorar nossa madeira a preço de banana? Nosso estado não tem minério para explorarmos.

E o petróleo?
Bocalom -
Essa história de petróleo é uma grande mentira para enganar o povo. O petróleo que temos aqui só vale a pena ser explorado quando o preço do barril estiver acima de 100 dólares. A solução é explorar mesmo a nossa floresta, mas até os índios estão desanimados com o PT, por isso existe uma filiação em massa de lideranças indígenas ao PSDB, porque a saúde indígena não chegou e economicamente eles estão piores que antes. Não deixaram os índios explorarem seus óleos, suas folhas e raízes da medicina tradicional. Em Rondônia, Amazonas, Pará e em toda parte os projetos estão dando certo, só aqui que não dá certo. Eu vim para o Acre porque diziam que aqui tinha as melhores terras do Brasil, isso só não é verdade em relação a fertilidade da terra, mas isso se resolve facilmente com a fertilização da terra. Temos 1,1 milhão de hectares de terras para ser exploradas sem precisar derrubar uma árvore. Precisamos intensificar a pecuária, hoje existe no Acre uma média de dois bois por hectare, nós temos projetos para oito bois por hectare, sem derrubar um pau.

Como e com quem o senhor vai montar seu plano de governo, e como pretende convencer a população de que suas propostas são melhores que as da Frente Popular?
Bocalom - Eu já discuto os problemas do Acre desde 1998, mas vamos procurar as pessoas para discutir melhoras para o Acre, inclusive dentro do próprio governo tem muita gente com muitas informações para nos passar. Vamos conversar com todas as lideranças para montar esse grande xadrez, que é um projeto para nosso Estado do Acre. O principal é gerar emprego e renda. Aí é onde o governo tem que entrar, porque o importante é ter dinheiro no bolso, porque do Bolsa Família só dá mesmo para sobreviver. O que o PT quer é que o cidadão, não morrendo, vote. Queremos que as pessoas realizem seus sonhos, compre sua bicicleta, compre seu carro, sua casa, visite os parentes. Queremos que as pessoas mais simples tenham acesso à melhoria de vida, porque só comer, beber e dormir Deus deixou para os bichos, para os seres humanos Deus deixou o comer, beber, dormir e a realização de sonhos. Nós precisamos de industrias, mas só teremos industrias de café se plantarmos café, só teremos indústria para beneficiar milho se tivermos milho, só poderemos ter industria para beneficiamento de carne se tivermos carne, só teremos industria de cosméticos se tivermos condições de explorar as riquezas da floresta. E isso só será possível se tivermos políticas públicas para isso.

Até que ponto a campanha presidencial vai influenciar no Acre?
Bocalom -
Vai influenciar muito, porque em 2006 ninguém acreditava em Geraldo Alckmin e ele ganhou do Lula no Acre, com 52 por cento dos votos. E ele ganhou, por exemplo, em Xapuri e ele nunca foi lá. Só esteve aqui no Acre uma única vez e o povo acreano votou nele. Em se tratando de José Serra a gente vai conseguir muito mais do que os 52 por cento dos votos.

Dilson Ornelas no ac24horas


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