quinta-feira, 28 de maio de 2009

10 perguntas para Márcio Bittar


Entrevista com o ex Deputado Federal Márcio Bittar, candidato derrotado nas últimas eleições a governo do Estado e a prefeitura de Rio Branco. Márcio agora é pré candidato novamente a deputado federal e fala sobre diversos problemas acreanos, levantados pela editoria deste blog.

Blog do Acreucho Se a gente disser que o PT desde que assumiu o poder no Acre, só tem feito coisas ruins, estaríamos passando um atestado de burrice. Mesmo sendo oposição, não se pode negar que muita coisa boa foi feita. Qual a sua avaliação da administração petista no Acre, desde que subiu ao poder? O PT é bom ou ruim para o estado?

Marcio Bittar: Eu acho que ninguém é 100% bom nem 100% mau, acho que todo governo faz mais ou menos coisas boas, mas, erra também, acerto e erro é do ser humano. O que é fato é que existem algumas obras importantes. A gente não pode negar Rio Branco se tornou uma cidade muito mais bonita, muito mais aprazível. O que não significa dizer que isso amordaça a oposição. Voce tem o direito de questionar a prioridade das obras, como fiz em algumas campanhas. Se era prioridade fazer uma passarela no meio de duas ponte, cada uma com duas passarelas?  Se ao invés disso não seria melhor gastar o dinheiro nos bairros de Rio Branco? Mas, questionando a ordem das prioridades, você não pode esconder que o aumento e a duplicação das ruas do centro de Rio Branco são coisas importantes. Tem um tráfego complicadíssimo aqui em Rio Branco, você não pode dizer que a construção de outra ponte sobre o Rio Acre é uma obra ruim, porque não é, é uma obra boa. Na verdade Rio Branco vai ter que ter no futuro, mais uma, duas ou três pontes. O centro administrativo de nosso estado no futuro tem que sair do centro da cidade. Então de qualquer forma, quando o governo amplia e duplica as ruas do centro ele está fazendo uma obra importante. As oposições, tem que compreender que o governo tem um projeto político, achando bom ou não esse projeto é respeitado nacional e internacionalmente. Não podemos menosprezar o nosso adversário, para que possamos fazer o nosso projeto, (da oposição) também ser respeitado no Brasil e no Mundo. A questão ambiental é um tema que veio para ficar, nenhum governo vai assumir o Acre e fazer o que quer com o meio ambiente, porque o mundo inteiro fiscaliza e isola. Quem está no governo conseguiu na realidade colocar um freio em quem pensava que podia fazer tudo que quisesse com o meio ambiente. O que nós temos que fazer não é um governo contra o PT, nós temos que ser “depois” do PT. Na hora que a oposição ganhar as eleições, e isso não está longe, não temos que governar contra o PT temos que governar após o PT. Governar após o PT é preservar o que foi feito de positivo e avançar naquilo que eles não avançaram. Melhorar a segurança pública, a escola pública, as vias de acesso nos bairros da cidade, a saúde que está numa situação deplorável, e a geração de emprego e renda que o governo não deu conta de fazer.

Blog do Acreucho – O Brasil e seus estados, desde 1988 vivem um clima, pelo menos virtual, de democracia e estado de direito. Temos uma “Constituição Cidadã”. A democracia e a cidadania tem sido efetivamente exercidas no Acre?

Márcio Bittar: Nem no Acre, nem no Brasil. A gente tem que reconhecer com tristeza, que o Brasil é um neném na democracia. É inegável, se você comparar os países da Europa, Estados Unidos, a comparação se faz necessária pra você ver como a democracia está capengando. O estado democrático de direito, que é uma das maiores conquistas do homem, estabeleceu que todos somos iguais perante a Lei, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tem 60 anos. No Acre há uma mistura entre os poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário e a opinião pública é manipulada. O governo não facilita a informação para as pessoas, sobre educação, saúde, segurança. Veja o IDH, o pessoal do governo quer manipular, discutir e tentar provar que não é correta a pesquisa. A questão da Justiça Eleitoral, por aqui, tudo é muito misturado. Quem faz política na oposição, respira insegurança, ameaças e terrorismo na época de campanha. As instituições que deveriam fiscalizar e coibir, não o fazem. Esta questão democrática é, talvez junto com a falta de atividade econômica do Acre, as duas principais críticas ao atual governo.

Blog do Acreucho – O manejo sustentável, como alternativa para o homem do campo, a florestania como “plano de governo”, foram os pontos fortes das campanhas petistas no Acre. Como modelo de administração pública, a florestania, trouxe que tipo de resultados para o povo acreano?

Márcio Bittar: Muita mídia, eles ganharam muita propaganda, nacional e mundial e com isso muito dinheiro, até com facilidade, por terem se colocado perante a opinião pública mundial como as pessoas que estão cuidando, zelando pelo meio ambiente e o mundo está de olhos nisso. O grupo que governa o Acre hoje cresceu muito, mas, o Acre não teve compensação nenhuma. O Acre é o estado que menos gerou emprego nos últimos tempos. No Acre, mais de cinqüenta mil famílias vivendo do Bolsa Família. Um deputado da base governista disse que por necessidade, mais de 20 mil pessoas vivem do tráfico de drogas. Como marketing de propaganda para o pessoal do governo, funcionou muito, mas, em termos práticos para a economia do Acre, não avançamos nada. A florestania era uma proposta de gerar emprego e renda a partir do extrativismo e isso não acontece, a renda que gera o extrativismo é muito pequena e passageira. Isso pode ser um paliativo, mas, imaginar que o extrativismo possa ser a mola propulsora da economia acreana, não é plausível.

Blog do Acreucho – Quando governador, Jorge Viana costumava dizer que: fazia de tudo pra manter o homem no campo, “ganhando seu dinheirinho, comprando sua roupinha, etc. Mesmo ganhando apenas “um dinheirinho” com a florestania, o que tem levado os acreanos a acreditarem e aceitarem as propostas petistas de administração?

Márcio Bittar: Será que essa afirmação é verdadeira? Eu disputei uma eleição para governador atípica, nenhum candidato entrou numa campanha com tantas chances de ganhar quanto eu tinha e também com tão poucas condições materiais e financeiras. Eu fiquei sozinho do ponto de vista material e financeiro. A estratégia daquela eleição foi errada, a oposição estava dividida, eu errei, apoiando um candidato a presidente que pedia votos para o meu adversário. A campanha no interior, a não ser onde o Wagner Sales ia, não tinha comitê, nem pessoal, nem estrutura nenhuma. Com tudo isso, juntando as oposições, tivemos quase 48% dos votos. Agora na campanha municipal, o prefeito disputando a reeleição, com toda a pompa, sem muito escândalo e depois dele ter administrado por quatro anos, com o governo do estado e federal do lado dele, eles ganharam as eleições por menos de 1% dos votos. O que falta para o Acre, retornar ao governo de oposição não é a vontade popular, o povo já mostrou soberbamente que quer mudar. Nós da chamada oposição, precisamos consertar aquilo em que estamos errando. Precisamos aprofundar nosso projeto sobre cidadania, pra dizer com clareza que nosso projeto é promover a geração da atividade econômica com inclusão social para promover a democracia. Corrigirmos nossas falhas e nos prepararmos melhor para a campanha do Serra. O povo acreano quer mudar, para mim isto está claro, o povo fez a sua parte, nós é que não fizemos a nossa.   

Blog do Acreucho – Muitas pessoas acham que o Acre está “desenvolvido” na administração do governo da floresta, mesmo a gente sabendo que é muita maquiagem, mas, é claro que há coisas boas. Este nível de “desenvolvimento” teria sido alcançado por qualquer outra administração, que não a petista?

Márcio Bittar: Eu não sou daqueles que não reconheço os méritos dos adversários. Não consigo divisar de que desenvolvimento estaríamos falando, o povo quer mudanças. Quando o ciclo da borracha terminou, no Acre, foi ensaiado um início de desenvolvimento, porém, o mundo inteiro de repente se conscientizou de que a mata amazônica não poderia mais ser derrubada e nos impediu de continuar com uma reação de desenvolvimento, quando o extrativismo da borracha que faliu. Não tivemos chance de criar alternativas, ficamos pelo meio do caminho. A oposição precisa governar pra avançar, nós não temos uma atividade econômica coordenada, quem tem que coordenar o progresso econômico é o estado. Isso é absolutamente inexistente no Acre, eles pegam coisas pontuais, uma coisa aqui, outra ali, mas uma ação de governo orientando o Estado para alternativas viáveis para a geração  dos empregos que queremos e precisamos, nisso eles não avançaram. A gente precisa fazer o gigante acreano produzir riquezas. Hoje a gente assiste aos jovens saindo das universidades, pagas com suor e sangue dos pais e dos próprios jovens e não há onde colocá-los para trabalhar. A turma do PT, o Jorge, a Marina, cumpriu um papel importante, o de ajudar a fazer o grito de alerta, a questão ambiental é séria, ela não é uma brincadeira, ela veio pra ficar. As matrizes energéticas são finitas, a substituição dessas matrizes ainda não é uma questão resolvida. Todos os governos reconhecem que o aquecimento global é uma verdade, não é uma farsa. Mas, o que foi feito agora? O governo reduziu o IPI dos veículos automotores, isso vai aquecer as vendas e produzir mais poluição e mais aquecimento global. O PT deu o alerta sobre a deterioração do meio ambiente, nós, precisamos ajudar nesta tarefa, mas, precisamos também achar um jeito de colocar aquele homem do campo que tem inúmeras necessidades.  Precisamos lembrar que preservação ambiental não pode rimar com miséria do homem.

Blog do Acreucho – O empresariado acreano muito tem lucrado, na verdade são os únicos que tem lucrado com a administração petista, principalmente os “muito grandes”. Eles ficam sempre em cima do muro. Outro gestor público, com outro plano de administração também seria apoiado por eles?

Márcio Bittar: Ninguém pode negar que essa turma do PT tem trazido muitos recursos para o Acre, a questão é. Estes recursos estão sendo aplicados como deviam? Empresários e governo é uma parceria que tem dado certo, então é natural que os empresários apóiem o seus parceiros comerciais.

Blog do Acreucho – A qualidade das obras executadas, pelo ou para o governo, são a olhos vistos, de qualidade duvidosa e não valem o preço que é pago, temos diversos exemplos, Via Verde, Estrada da Sobral, BR364, desabamento do teto do Pronto Socorro e outras. Que medidas podem ser tomadas para moralizar e melhorar as obras públicas no Acre?

Márcio Bittar: Isso é uma verdade, é um escândalo, meses depois de inaugurada a Via Verde, passando por lá, verifiquei um monte de consertos, e o que é pior, o Deracre fazendo esses consertos. As empreiteiras fazem as obras, a um preço muito caro, já inclusive fizemos algumas denúncias ao MP sobre isso. Poucos meses depois a obra apresenta defeitos e quem arruma o mal feito é o Deracre. Esse é um claro exemplo do não funcionamento do Estado de Direito no Estado do Acre. Agora o MPF está fazendo um relatório e apresentando denúncias . Eu me lembro que viajei pela BR364 fiz fotos e documentei tudo, no trecho entre Feijó e Tarauacá, que foi feita a um preço caríssimo e em poucos meses estava derretendo, e o governo estava arrumando com as máquinas do Deracre. As obras mal feitas, denunciadas hoje, pelo MPF, se você tem um estado funcionando, fiscalizando, não haveria impunidade. Mas, a impressão que se tem é de impunidade.

Blog do Acreucho – O governo petista é controlador, manipulador e gere seus aliados “com mão de ferro”. Que tipo de democracia é esta? Algum modelo novo?

Márcio Bittar: O núcleo do PT no Acre herdou uma visão Stalinista da política. Quem foi Stalin? Stalin foi chefe do partido comunista por décadas, governando seus aliados com mão de ferro, ele dominou a máquina, foi uma nova versão do que dizia Luiz XIV, o estado sou eu. Havia um culto à personalidade impressionante. Venderam na União Soviética a imagem que Stalin era um homem imbatível e indestrutível, que ele era o pai da pátria. Durante o governo de Stalin, morreram milhões de pessoas. As origens do PT são muito stalinistas. O PT usa o aparelhamento da máquina do estado para alcançar seus propósitos.

Blog do Acreucho – O maior dos problemas acreanos não é a saúde, nem a educação, mas a falta de emprego para os pais de família e para os jovens. O governo petista cria ilusões para as pessoas, criando cursos profissionalizantes e “capacitando pessoas” sem ter onde colocá-las para trabalhar. O que temos que ter primeiro, o emprego ou a formação?

Márcio Bittar: Nos, temos que ter um projeto global. O governo peca, começa do meio para o fim. O governo tem medo de fazer qualquer coisa pra gerar os empregos que necessitamos e ser criticado pela questão ambiental. Nos temos que ter um governo que planeje o Acre. Temos que levantar todas as potencialidades acreanas. Como candidato a governador, fui o primeiro a colocar a questão de que temos que fazer a prospecção no solo acreano, se tem petróleo aqui, nós temos que explorar, o impacto ambiental seria mínimo, é um impacto aceitável. Tem que haver uma avaliação do que somos capazes de produzir e ver quem é capaz de comprar as riquezas que somos capazes de produzir. Formando pessoas sem ter onde coloca-las para trabalhar, gera uma frustração. Alguma zona franca, tem que ser criada no Acre, pra gerar os empregos que precisamos, como aconteceu em Manaus. O governo tem que planejar as atividades econômicas. O medo de receber críticas, por ter vendido uma imagem de que o Acre é um estado preservacionista, mantém o governo estagnado.

Blog do Acreucho – A crescente onda de violência que tem assolado nosso estado parece não preocupar muito as “autoridades”. Na sua visão o que está errado no modelo de gestão da segurança no Estado do Acre? Que medidas tem que ser tomadas imediatamente?

Márcio Bittar: Claro que a violência urbana, não acontece só no Acre. Os bandidos perderam o medo da polícia. Perderam o medo no Rio, em São Paulo e aqui no Acre. No fundo, ninguém está seguro, nem o próprio governo. O governo saber que a violência não é um problema só do Acre, não é motivo para que ele se acomode. Uma das causas da violência é a desocupação e nisso o governo do estado tem sua dose de erro, de culpabilidade, quando não oferece depois de 12 anos no poder, um caminho claro de como gerar emprego. Rio Branco é uma capital pequena, com problemas de cidade grande. Parte dos nossos problemas é de uma visão equivocada de governo, que pensou que a florestania geraria a riqueza que ela não gerou. O desemprego e a falta de meios de geração de emprego e renda é a raiz do problema que causa a violência.

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