terça-feira, 24 de junho de 2008

Noite de São João... Alegria... Que morreu...


Na década de 1950 quando eu ainda era menino, lembro-me que havia a tradição da comemoração da “noite de S. João”, que se fazia na noite do dia 23 de junho. As crianças iam pelo bairro, entrando nas casas e pedindo pra pegar madeira que as pessoas não fossem usar mais, o material seria usado à noite, pra fazer uma linda fogueira.
À noite, a vizinhança se reunia e a fogueira era acesa, as crianças ficavam brincando à luz do fogo, soltando bombinhas e danças de roda eram executadas em geral por um sanfoneiro, que sempre havia entre os vizinhos, meu pai costumava tocar violão e meu irmão o pandeiro. Era uma festa bonita, onde se confraternizavam todos os vizinhos.
As mulheres preparavam cada qual um prato. Um bolo, um pudim, arroz doce, canjica (mugunzá), pipoca, uma grande panela de leite com chocolate, amendoim torrado, alguém sempre fazia um quentão, uma bebida feita com vinho, cravo, canela e servida quente, pastéis, polenta e outras delícias. A gente costumava assar batata doce e pinhão nas brasas da fogueira e ficávamos até depois da meia-noite, brincando e dançando. Quando a gente conseguia algum dinheiro, fazia bandeirolas de papel de ceda e enfeitava a frente da casa onde ficava a fogueira. Era uma brincadeira inocente, feita por gente inocente, do bairro Partenon da minha cidade natal, Porto Alegre.
Mais tarde, já perto da meia-noite, quando a fogueira já era apenas um braseiro, os jovens mais ousados, costumavam pular a fogueira, em geral pra se exibirem para as moças, depois a gente se retirava cada um para a sua casa e ia dormir. Era uma festa popular, que criava concorrência entre grupos de vizinhos, pra ver quem fazia a fogueira mais bonita. Algumas pessoas até soltavam alguns balões, mas eram inofensivos, nunca subiam mais do que alguns poucos metros, não havia tecnologia e era tudo na empolgação.
Hoje, me parece que este tipo de tradição, morreu, mesmo nos bairros periféricos, não se vêm mais as fogueiras e os vizinhos não tem mais a tradição da confraternização, acho que a violência inibe um pouco essas atividades e também o desinteresse pelas coisas saudáveis da vida.
Esta noite, mesmo, aqui na periferia de Rio Branco no Acre, onde moro, não vi sequer uma fogueira, nenhum rojão foi solto, nenhuma música tocou, nenhuma criança se alegrou, nenhum vizinho chamou o outro pra se confraternizar.
Agora, tenho certeza de que as tradições estão morrendo...

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