Leandro Prazeres
”Para democracia se consolidar de verdade, não é preciso ter essa alternância de poder”, diz Jorge Viana.
De “menino do PT” à figura forte do Planalto. Jorge Ney Viana Macedo, 51, é o líder de um dos grupos políticos mais bem sucedidos da Nova República: sua própria família. Desde 1998, ele e seu irmão Tião Viana, se revezam no Governo do Estado do Acre e no Senado. Em 2010, mais um sucesso eleitoral: Jorge se elegeu senador e seu irmão foi reconduzido ao governo do Estado. Mas ao longo de 12 anos, já é possível ver algumas rachaduras na estrutura de poder que os irmãos Viana montaram no lugar da oligarquia de outros irmãos, os Cameli. Tião Viana foi eleito no primeiro turno para o governo, mas com uma margem de menos de 1% sobre o segundo colocado. Jorge foi o senador mais votado do Acre, mas sua distância para o segundo lugar também foi mínima.
Acreucho: Figura forte no Planalto? Com a derrota de Dilma aqui no Acre? Jorge era queridinho de Lula, que logo depois das eleições tratou logo de censurar o seu pupilo. Oligarquia dos Cameli? Eles tiveram apenas um governo, são um grupo forte economicamente na região deles e só. Transitam bem dentro do atual governo e no futuro governo também e, com a "reeleição" de César Messias para a vice-governança, ficaram garantidos no poder. Foram inimigos dos irmãos Viana e hoje são amigos, coisas da política. Agora, que ficou comprovada a oligarquia dos Viana, ficou, Binho Marques tinha todas as condições de se reeleger, mas, nem cogitou esta possibilidade, pois, já estava "combinado" que seria apenas um "governo tampão". O engraçado é que Tião Bocalom, PSDB, quase tira o governo de Tião Viana, ele se elegeu "raspando" e quase fica "de segunda época" como se dizia quando eu estudava. Coronéis de barranco no Acre? Não! Não existem! Se existir, a aristocracia Viana os derruba!
Em entrevista concedida em Belém, Jorge Viana negou que ele seu irmão sejam “coronéis de barranco”, falou sobre as dificuldades de atuar em um Congresso que não quer mudar o sistema político e sobre os desafios de inserir a Amazônia na agenda do desenvolvimento econômico do Brasil sem comprometer seu principal ativo: a floresta.
Alguns teóricos defendem que a alternância de poder é saudável à democracia. No Acre, as família e seu grupo político estão no poder desde 1998, quando o senhor se elegeu governador. Agora, seu irmão assume o governo depois de um aliado. Vocês se enxergam como “coronéis de barranco” do Acre?
Jorge: Ao contrário. Nós desmontamos essa figura que tinha no Acre e que se mantém em algumas regiões da Amazônia. Em primeiro lugar, tem uma diferença grande. Para democracia se consolidar de verdade, "não é preciso ter essa alternância de poder". O que é preciso é respeitar os princípios da democracia. Tanto eu, quanto meu irmão (Tião Viana) e o Binho (Binho Marques, atual governador do Acre), éramos vistos como os “Meninos do PT”. Baseados nos ideais de Chico Mendes, nós conseguimos promover uma mudança visível no Acre e isso nos levou a ocupar espaços de poder. A própria Marina Silva (PV) saiu desse meio. Não temos uma “familiocracia” nem um grupo de coronéis. E isso nunca vai acontecer no Acre.
Acreucho: Vou concordar com Jorge Viana, "eles desmontaram os coronéis que haviam", pra poder criar o coronelismo deles! Depois de séculos da "invenção" da Democracia, aparece Jorge Viana pra "mudar o conceito" de que "é preciso alternância no poder pra haver Democracia". Como ele pode dizer que "respeita os princípios da Democracia se quer "estuprar" o principal deles?
No Acre, o PT está no poder há 12 anos e vai ficar por mais quatro. Em São Paulo, o PSDB está no poder há 16 e vai ficar por mais quatro. O que ambos têm em comum para se manter tanto tempo no poder nesses Estados? Há algumas práticas comuns?
Jorge: Sinceramente não. A coincidência é apenas temporal. O Acre é um caso atípico. A gente vivia na ilegalidade, mas nós conseguimos fazer uma revolução. Não significa que vamos nos perpetuar no poder. Veja bem que nessas eleições, por exemplo, nós nos elegemos com alguma dificuldade. Fui o senador mais votado, mas a minha margem foi abaixo da que nós esperávamos. Isso não significa que está tudo certo. Tem algumas coisas que não estão indo bem, principalmente na relação com a população. Eles reconhecem na gente os benfeitores, mas acho que nossa mensagem não está sendo bem enviada. Tomara que o governador possa promover as mudanças necessárias para o projeto ir à frente.
Acreucho: Ora, "eles conhecem em nós os benfeitores". Caro Jorge, o povo não precisa de "benfeitores", o povo precisa de políticos, representantes do povo que defendam "os interesses" do povo e não apenas de uma classe. Quanto à relação com a população, ela está deteriorada, porque o PT depois de se firmar no poder, governa de dentro dos gabinetes, sem se misturar com a população. Quanto a semelhança com o PSDB, que Jorge evitou fazer é muito simples, o PSDB de São Paulo "governa" o Estado e satisfaz o seu povo, no Acre o PT apenas "se mantém" no poder, governando para uma elite.
Durante a queda da ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e durante as crises do ex-ministro Carlos Minc, o senhor foi cotado para assumir a pasta. Como estão as articulações agora? O Meio Ambiente é uma pasta que lhe interessa?
Jorge: Eu tive, ainda como governador, o privilégio de ser convidado pelo presidente Lula de ocupar alguns cargos com status de ministério. Agora, não. Sou senador eleitor e não estou recebendo nenhum cargo. Não estou postulando nenhum cargo.
Acreucho: Saída pela tangente! Todo mundo sabe que o maior sonho de Jorge Viana é ser Ministro, mas, tem sido preterido por Lula e neste novo governo, nem foi convidado e acho que nem adianta postular, com a votação que teve Dilma no Acre ela nem recebe ele.
Mas o senhor recebeu algum convite?
Jorge: Não estou postulando a nenhum cargo. Meu único compromisso é transformar o meu mandato em um mandato para a Amazônia. E tenho um baita de um desafio: como superar Tião Viana e uma Marina Silva?
Acreucho: Arrogância, Tião Viana e Marina Silva foram super Senadores? Claro que não, eram Senadores de um estado pequeno e sua importância era a mesma do tamanho do Estado. Marina foi para o Ministério numa jogada de marketing de Lula, que a colocou lá pelo alto conceito internacional que ela tinha, mas, não deu o apoio que ela necessitava e nem estava interessado no que precisava ser feito em matéria de preservação ambiental e Tião Viana chegou a ser Presidente do Senado, interinamente.
Em um discurso, o senhor lamentou que apesar de ter sido renovado, o comando do Congresso será envelhecido. Como é sua relação com Renan Calheiros e José Sarney? O senhor se referiu a eles?
Jorge: Não. Eu me referia ao perfil do Congresso como um todo. O Congresso mudou, mas não mudou muito. Eu me dou super bem com essas pessoas. Não tive nenhum contato ainda com eles, mas vou procurá-los. Isso, para mim, é importante. É preciso estabelecer boas relações com essas pessoas. Mas eu acho que este Senado que foi vítima de dois anos de crise precisa sair dessa agenda negativa, mas eu não vejo muita margem para mudança significativas. A elite política não se renovou e eu não vejo espaço para uma reforma política. Quem escolheu os senadores e deputados foi a população.
Acreucho: Engraçado! Jorge Viana não quer "renovar" o poder no Acre, mas, acha que o Congresso Nacional está envelhecido e que precisa de mudanças, pimenta nos olhos dos outros é graça!
Mas mudar a agenda não seria maquiar uma situação que não se traduziria, de fato, em uma mudança estrutural?
Jorge: Eu não acredito em mudança radical dos partidos políticos e dos eleitos sem uma reforma política que crie as condições para que isso aconteça. A atual estrutura partidária e o modelo partidário brasileiro vivem para se retroalimentar. Uma reforma política criaria espaço para isso. Mas aí cria-se uma situação dúbia: o Brasil precisa da reforma, mas o Congresso não quer fazê-la e para fazê-la precisamos do Congresso. Nesse momento, se fala em uma constituinte exclusiva, mas não vejo como isso aconteceria já que seria preciso também da aprovação do Congresso. Mas prefiro ser otimista e acho que dá pra fazer algumas mudanças pequenas que podem tirar o Senado desse cenário negativo. O arranjo político brasileiro é muito ruim.
Acreucho: O que Jorge quer dizer é que "políticos legislam sempre em causa própria". Não se pode reformar uma coisa que vai prejudicar a quem a está reformando, Leis mais duras por exemplo, deixam os políticos de orelhas em pé, com medo de serem pegos em suas próprias teias. Pelo que estou vendo ele pretende chegar lá "cheio de idéias", mas, não pode se esquecer que lá tem muito mais cacique do que índio. Lá José Sarney, Renan Calheiros e outros gritam e os outros dizem "amém". Senadores de primeira viagem por lá tem que andar em ovos!
O senhor é um “habitué”, sempre vai a fóruns de meio ambiente e, recentemente, disse que a Amazônia não vai a lugar algum exportando matéria prima. Que alternativas o senhor defende?
Jorge: Penso que alguns dos nossos maiores ativos estão mesmo na floresta e devemos explorá-los. Inclusive no subsolo. Eu uso sempre uma comparação: O Brasil exportou muito ouro, principalmente de Minas Gerais, e Minas não é um paraíso. Ou seja, nem exportando ouro, que é super valioso, dá pra ganhar muito dinheiro. Temos é que forçar a barra para colocarmos, aqui na Amazônia, mais siderúrgicas para não exportamos apenas o minério de ferro. Mesmo a Natura, que eu sempre elogio como uma boa empresa... Poxa, a Natura tem que trazer uma fábrica pra cá (Amazônia). Não dá pra ela ficar comprando apenas a essência e mandar tudo para processar em São Paulo. E 70% da população da Amazônia vive em cidades e muitas pessoas vieram expulsas de zona rurais devido a processos equivocados de ocupação da região. Fechar serrarias é ótimo, mas não resolve. Precisamos abrir indústrias florestais. Isso não é difícil. Temos que fazer uma reforma urgente no Basa, que ainda financia atividades pouco sustentáveis, assim como o Banco do Brasil. O BNDES já faz algumas mudanças. Temos que dar crédito para atividades florestais sustentáveis e até de atividades de uso minerais desde que cercadas de práticas sustentáveis. Mas isso não será feito com governos regionais disputando poder entre si.
Acreucho: Bravo! Jorge Viana agora acha que a Amazônia tem que exportar "até o que tem no subsolo. Seria petróleo? Antes de pensar em montar alguma grande indústria na Amazônia, temos que pensar em mudar nossa matriz energética que é completamente instável. Sem energia não há como implantar indústria de coisa nenhuma. É puro lero, lero!
Nos últimos 60 anos, sempre que se falou em aumento do crescimento econômico; a Amazônia pagou caro. Hoje, a presidente eleita Dilma Rousseff vem falando que a marca de seu governo será o crescimento econômico. Será que desta vez, a Amazônia vai resistir a essa sangria?
Jorge: Acho que é ao contrário. A Amazônia agora vai se inserir nesse desenvolvimento. A inserção da Amazônia se dará numa base de baixo carbono. Uma das grandes virtudes da presidente Dilma é que ela quer dotar a Amazônia de infraestrutura para que ela cresça. Ela quer crescimento com uma condicionante: redução da pobreza e da desigualdade social. Mas no caso da Amazônia, tem uma outra condicionante: esse crescimento tem que incorporar um ativo novo que é a floresta. O jeito que não deu certo era quando o foco estava apenas na terra. Agora, eu acho que podemos fazer o desenvolvimento da Amazônia do jeito certo. O Acre vem dando inúmeros exemplos.
Acreucho: Exemplo de que? De se construir um estádio de futebol onde não há algo que se possa chamar de "time de futebol"? Exemplo de se construir um complexo viário que vai de "nada a lugar nenhum"? De dizer que o Acre é o melhor lugar pra se viver, quando a dengue, malária e outras doenças campeiam livres? Exemplo de "como não se deve construir uma rodovia?" Exemplo de como não se deve tratar o povo, quando se quer permanecer no poder? Tenho outros exemplos...
No Acre tem alguém ganhando dinheiro com a preservação, com desenvolvimento sustentável? Brincadeira tem hora! Não estou falando de ganhar "alguma coisa" pra se sustentar, falo de ganhar dinheiro pra viver bem. Nosso seringueiro, homem do campo e das florestas "mal consegue sobreviver", os trabalhadores bem entendido, os donos de terras estão cheios de grana.
Este jornalista, Leandro Prazeres foi incisivo nas perguntas à Jorge Viana. No Acre, nenhum jornalista teria coragem de fazer este tipo de pergunta, se fizesse, ficaria sem resposta e sem emprego, mas, como o rapaz não conhece aqui, não sabe como é, Jorge respondeu com evasivas e desconversas, as mesmas que são apresentadas nos programas do nosso Acre Virtual.
"Quanto a semelhança com o PSDB, que Jorge evitou fazer é muito simples, o PSDB de São Paulo "governa" o Estado e satisfaz o seu povo"
ResponderExcluirEstá precisando visitar a tucanolândia. Devia se ater a falar somente do Acre, porque de Sudeste está sabendo pouco.