POR ANTONIO ALVES
Sempre fui procurado por repórteres dos jornais locais ou nacionais, que me pedem análises e informações sobre diversos assuntos do Acre. Atendo a todos; penso que não se deve fechar a porta para a imprensa, mesmo uma imprensa de péssima qualidade. Quase sempre me dou mal. Os artigos já estão prontos antes de serem escritos e as declarações dos entrevistados servem apenas para que os editores coloquem aspas em suas próprias opiniões pré-formadas.
Desde que a Frente Popular do Acre passou por dificuldades nas eleições recentes, tenho evitado publicar qualquer análise política. Faço críticas e brincadeiras com os amigos, cheguei até a dizer duas ou três palavras mais duras a alguns, mas não aderi a essa “malhação” comemorativa incentivada por uma oposição maldosa à qual jamais pertenci.
Minhas discordâncias sempre foram abertas e claras, em todos esses anos. Nunca me calei e sei que provoquei muitas contrariedades a alguns companheiros que não sabem aceitar críticas. Mas agora, depois da pancada que levaram, preferi não ficar cutucando feridas.
Esta semana, entretanto, escorreguei. Abri inadvertidamente minha boca para responder às perguntas de jornais do Sul [leia], que não conhecem nem querem entender as coisas da província e publicam, na maioria das vezes, matérias “de encomenda” para favorecer esse ou aquele grupo político.
Obviamente, não vou ficar explicando que não foram exatamente aquelas as minhas palavras, que as frases de num assunto foram usadas em outro, que não sabia que era uma entrevista e achava que era uma conversa ou qualquer outra justificativa. O fato é que eu já estou cansado de saber que, para jornalistas, não devo contar nem mesmo piada.
Estou particularmente chateado com isso. Não porque as críticas que faço ao PT e à Frente Popular possam ser confundidas com as da oposição, pois qualquer pessoa com inteligência mediana percebe as diferenças. Mas justamente porque podem ser confundidas com as fofocas oportunistas que surgem dentro da própria Frente Popular. Há “companheiros” –e todo mundo sabe disso- que estão muito interessados em esquivar-se de suas responsabilidades ou talvez estejam querendo puxar o saco dos eleitos e, por isso, jogam a culpa do revés eleitoral no governo e no governador Binho Marques. Não quero, nem de longe, ser confundido com essa turma.
Não estive no Acre durante a campanha, não vi os programas da propaganda eleitoral. Ouvi falar que a campanha da Frente Popular não mostrou as realizações do governo atual e não o defendeu das críticas da oposição. Era como se Tião Viana fosse um candidato avulso, que ganharia a eleição por seus próprios méritos, não como um candidato da “continuidade”.
Não sei se essa avaliação é certa. Mas conheço gente que trabalha no governo e que suspirava para que ele terminasse logo, para que Tião assumisse ou Jorge voltasse. Talvez alguém tenha passado a suspirar pela oposição. Não é pouca gente que resmunga críticas, mas não as expressa em público.
Que o governo tem falhas é óbvio. Para mim, tudo deriva de um erro geral, estratégico: Binho deixou a política para os políticos, não quis ou não pode promover rupturas com as orientações dos caciques. Fez um governo bem comportado com uma missão impossível: manter critérios técnicos e diminuir a interferência política. Mas não se pode dar eficiência e impessoalidade ao serviço público sem mexer nos privilégios das oligarquias. Resultado: a parte do “para todos” até andou bem, mas o “com todos” ficou lá atrás -pois os processos de participação política continuaram na mão dos mesmos atravessadores, que se fazem passar por lideranças.
Apesar de tudo, Binho fez um excelente governo. Com uma quantidade inacreditável de obras e serviços, chegou aos municípios mais distantes da capital. Como se diz nos corredores: fez mais casas que o Flaviano, mais estrada que o Orleir e mais pontes que o Jorge. Todos os serviços públicos melhoraram e alguns, que quase não existiam, começaram a funcionar. O sistema de atendimento social foi ampliado e começou a se mexer, um conjunto desarticulado de projetos assistenciais ganhou institucionalidade, espaços adequados, orçamento e poder.
A Educação continua ruim, mas não é mais uma das piores do Brasil. A Saúde continua precária, mas não é mais o caos. A Segurança é péssima, mas isso é uma coisa que piora continuamente em todo o Brasil e aqui piorou menos. É uma avaliação ruim? Paciência, não tenho nenhum talento para mentiras marqueteiras do tipo “revolução na educação”. Reconheço que melhorou um pouco e o povo inteiro também reconhece, isso é sincero e verdadeiro e deve bastar.
Mas não quero fazer avaliação de governo, nem tenho pra isso informações além daquelas a que o público em geral tem acesso. Quero apenas ressaltar o fato de que o governo não deveria ter sido abandonado pelas lideranças políticas que dele se beneficiaram. Não merecia ficar agüentando indiferença e até antipatia de “formadores de opinião”, inclusive jornalistas, sustentados pelo próprio governo e colocados a serviço dos caciques políticos da própria Frente Popular.
O governador, pessoalmente, tampouco merece ser cercado por esse clima de fim-de-feira, com todo mundo correndo para agradar ao novo rei e anunciar a “humanização” que ele promoverá. Binho Marques sempre foi discreto e leal, nunca disputou poder nem prestígio, não reivindicou autoria pessoal das realizações do seu governo e sempre manteve relações cordiais com todos –até com a oposição. Não há nenhuma dúvida sobre sua honestidade, nem suspeitas de que tenha permitido atos ilícitos de seus auxiliares. Permanece uma pessoa simples e andará nas ruas como um cidadão acreano de dignidade intacta.
Por isso fico deveras chateado, envergonhado mesmo, com a simples idéia de que minhas críticas à política desastrosa do PT e seus aliados –partidos e “lideranças” políticas e empresariais- possam ser confundidas com essa oportunista culpabilização do governo pelos resultados da eleição. Só posso esclarecer precariamente, pois cada um entende como quer: quem me quer mal, só pode me interpretar mal. Mas posso lançar um alerta a todos os que se escondem no silêncio ou no palavreado hipócrita: senhores, vosso rabo está de fora; o povo está vendo e cada um terá o que bem merece.
Posso também, sem vergonha ou hesitação, pedir desculpas ao Binho e aos companheiros sinceros que estejam no governo por amor ao trabalho e não ao poder. Lamento qualquer constrangimento que possa ter causado, não foi essa minha intenção. Só o que quis, e sempre fiz, foi exercer aquela velha liberdade que conquistamos nas assembléias, nos teatros, nas praças, onde depositamos os ideais de nossa juventude.
Tudo o que quero é permanecer, ao menos em espírito, um daqueles meninos que éramos. E que a política e o poder, se já nos levaram a ingenuidade, não nos levem jamais a inocência.
Não tenho mais companheiros. Não quero perder os amigos.
Antonio Alves é jornalista e assessor do governador Binho Marques
Fonte: Blog do Altino
Deixa o Toinho
ResponderExcluirEle tá só segurando a boquinha.