segunda-feira, 24 de maio de 2010

O jogo sujo das pesquisas



Tamanha é a importância dada às pesquisas na corrida eleitoral que se torna inevitável elas serem alvo de um jogo sujo em torno de seus resultados.

“Pesquisa boa é a que me é favorável”. Esta frase pode muito bem resumir a forma como os candidatos veem os levantamentos de intenção de voto. Muito mais do que uma ferramenta de diagnóstico do quadro eleitoral, as pesquisas se tornaram importantes fatores de prognóstico das disputas, tanto devido a sua capacidade de influenciar diretamente na decisão dos eleitores no dia da votação, seja pelo “efeito manada” que provocam, seja pelo estímulo ao chamado “voto útil”, quanto pela forma com que ajudam a desenhar o mapa de alianças políticas e a distribuição de apoio financeiro às candidaturas antes e durante as campanhas.

Diante disso, é cada vez mais comum vermos candidatos e partidos virem a público reclamar que seu desempenho nas urnas foi prejudicado pelas pesquisas. Em alguns casos, a má performance nos levantamentos pode abater uma candidatura antes mesmo dela alçar voo. Que o diga Ciro Gomes (PSB). Desde o início do segundo mandato de Lula, o político cearense, sem papas na língua, levantou polêmicas de olho em um possível aval do presidente à sua pretensão de se lançar ao Planalto nas eleições deste ano. Lula, no entanto, escolheu não só antecipar a campanha como, já em meados do ano passado, informava que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, era sua candidata, frustrando Ciro.

O que vimos foi que a decisão do presidente acabou por adiantar também o calendário das pesquisas. No início, Dilma, uma desconhecida para grande parte do eleitorado, não obtinha números expressivos, mas logo já aparecia à frente de Ciro. E este, por mais que tentasse chamar a atenção, não conseguiu virar o jogo contra a agora ex-ministra e pré-candidata do PT. Diante da estagnação do nome de Ciro e do avanço de Dilma nos levantamentos subsequentes, só restou ao PSB embarcar na campanha da situação, deixando o ex-governador do Ceará a ver navios.

O pré-candidato do PSDB, José Serra, por sua vez, evitou ao máximo entrar no clima de campanha antecipada. Bem colocado desde as primeiras pesquisas para as eleições presidenciais deste ano, inicialmente com chances de até vencer ainda no primeiro turno, o ex-governador de São Paulo achou que com isso evitaria a ascensão do nome de Dilma. Ledo engano. Com o debate eleitoral estimulado por Lula já nas ruas, a ex-ministra passou a capitalizar a enorme popularidade do presidente, principal combustível de sua candidatura. Gradualmente, a petista encurtou a distância para Serra, passando a ser mera questão de tempo começarem a surgir pesquisas mostrando-a empatada ou à frente do tucano.

Dito e feito: no início de abril, levantamento do instituto Sensus apontou empate técnico entre Serra e Dilma. Não por coincidência, o pré-candidato e o PSDB passaram a reclamar das pesquisas. E por menos coincidência ainda, o instituto foi multado pelo Tribunal Superior Eleitoral em R$ 53 mil por ter divulgado este levantamento antes do prazo legal de cinco dias de registro junto à Justiça Eleitoral.

Tamanha é a importância dada às pesquisas na corrida eleitoral que se torna inevitável elas serem alvo de um jogo sujo em torno de seus resultados. De quem as encomenda à empresa escolhida, passando pela formatação das perguntas, escolha da amostragem, abordagem de entrevistados e tabulação das respostas, tudo pode ser usado para que elas se mostrem favoráveis a este ou aquele candidato. E em um pleito disputado como este parece que vai ser, podemos esperar ainda muita discussão sobre esta questão.

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