quarta-feira, 24 de março de 2010

"Amigo" detona Lula



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O que “Lula, o filho do Brasil” não contou

“Se existe um criador de Lula no aspecto sindical, sou eu”, afirma Paulo Vidal Neto, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e amigo pessoal de Lula.

Por Carla Delecrode no Opinião e Notícia

Paulo Vidal Neto era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema quando conheceu Lula, em 1969. No início, Lula não conhecia sindicato e começou com Vidal e os demais diretores a aprender os primeiros passos do movimento. “Se existe um criador de Lula no aspecto sindical, sou eu”, conclui Vidal.
O próprio Lula confirmou no site oficial do órgão sua inexperiência. “Quando fui para o Sindicato era interessante porque eu não manjava muita coisa de política, mas meu irmão, Frei Chico, frequentava a política, frequentava o Sindicato.” Vidal e Lula eram companheiros de luta e parceiros na administração do órgão durante a ditadura militar. Eram velhos amigos, de acordo com Vidal.
Quando o ex-presidente do Sindicato assistiu ao filme “Lula, o filho do Brasil”, teve uma surpresa. Para ele, a história contada é bem diferente do que aconteceu. “O filme é absolutamente mentiroso e com objetivos políticos e eleitoreiros. Ele deforma e destrói parte da história da liderança sindical do país.” O presidente da LC Barreto, Luiz Carlos Barreto, por sua vez, respondeu às críticas do ex-metalúrgico para o Opinião e Notícia. “Fizemos um filme de ficção baseado em fatos reais, e não um documentário.”
O cineasta afirmou que o personagem que representa o presidente do Sindicato é uma espécie de fusão de vários líderes, por isso tem o nome fictício de Claudio Feitosa. “É verdade que Lula aprendeu muito com os líderes sindicais da época. E muitos deles que estão vivos, como por exemplo, Osmarzinho, Djalma Bom, fazem justiça ao Paulo Vidal, dizendo que ele foi um dos professores do Lula. Aliás, numa cena do filme tem um diálogo em que o presidente do Sindicato diz: ‘O Lula aí, aprendeu tudo comigo’.”
A indignação de Vidal diante da versão contada o fez enviar uma carta à Presidência endereçada a Lula. E teve resposta depois de pouco mais de um mês. “O presidente Lula não participou diretamente da produção. Pediríamos ainda atentar para o fato de os filmes, mesmo os que se propõem a retratar acontecimentos históricos, sempre fogem aqui e ali ao rigor dos fatos, o que certamente ocorreu na película de que ora tratamos”, afirmou trecho da carta escrita em nome do presidente pela Diretoria de Documentação Histórica, do Gabinete Pessoal do Presidente da República. Vidal revelou para ao Opinião e Notícia a história contada na carta endereçada à Lula.
Opinião e Notícia – Comente o início de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.

Paulo Vidal Neto - Não se pode comparar a realidade de hoje com a da ditadura militar. Era um contexto em que o governo combatia o comunismo e considerava qualquer um contrário a ele como comunista. Antes de 1964, os comunistas eram os responsáveis pelo sindicalismo no país. Após a revolução, os sindicatos ficaram sob intervenção do governo. Fui eleito diretor em 1967, enquanto Lula começou no sindicalismo, em 1969, quando ele entrou como suplente no Conselho Fiscal por minha indicação. Mas era o irmão de Lula, Frei Chico, quem deveria ter participado da chapa. Frei Chico não quis e apontou Lula como substituto. Após conhecer Lula, aceitei e indiquei o nome dele ao grupo diretivo. Ele não existia no sindicato e não tinha qualquer atividade sindical, nem tão pouco chamou mais pessoas para participar. Ninguém o conhecia.

Opinião e Notícia – Como foram os primeiros passos de Lula?
Paulo Vidal Neto - Com a formação da chapa, ele foi eleito como suplente em 1969. Então, começou a participar das ações sindicais e a se familiarizar. Aos poucos foi ficando conhecido, já que gostava de futebol e de dança. E foi se adaptando à realidade do Sindicato.

Opinião e Notícia – Conte algum momento marcante na amizade de vocês.
Paulo Vidal Neto - Em 1971, ele se casou com Lourdes [a primeira esposa de Lula], e quis abandonar o Sindicato. Ele conversou comigo sobre a decisão e eu o convenci a continuar. Naquela noite, compramos um quilo de linguiça e uma garrafa de pinga e, enquanto Lourdes fritava a linguiça, nós dois conversavamos. Eu o convenci a não desistir e falei sobre um projeto sindicalista independente que privilegiasse em todos os sentidos os trabalhadores. A ideia era de que os trabalhadores deviam ser o início, o meio e o fim. Ele se encantou com o plano de construir um sindicato forte e independente.

Opinião e Notícia – Como foi a ascensão de Lula no órgão?
Paulo Vidal - Em 1972, a oposição criou uma chapa, que era a síntese do Partido dos Trabalhadores (PT) e convidou Lula para encabeçá-la e a concorrer comigo pela liderança do Sindicato. Ele ficou balançado e veio conversar comigo. Eu o liberei para fazer o que lhe parecesse o melhor. Uma semana depois, Lula decidiu continuar em nossa chapa. Com isso, o coloquei como 1º secretário, passando a integrar a diretoria. A eleição foi ganha com facilidade. No mandato, propus à diretoria que criasse uma seção no Departamento Jurídico para atendimento previdenciário aos associados e dependentes, sendo Lula encarregado de iniciar o contato com aqueles. Assim, ele se familiarizou com a legislação previdenciária, além de ter aprendido a administrar uma seção no sindicato.

Opinião e Notícia – Vocês sempre foram parceiros no Sindicato?
Paulo Vidal - Em 1974, fui comunicado que a empresa onde trabalhava em São Bernardo iria se mudar para Mauá, com isso teria que deixar o sindicato. Era preciso preparar um sucessor que continuasse nosso projeto sindical a partir de 1978, quando sairia definitivamente do órgão. Os nomes inicialmente pensados foram Rubens Teodoro, Rubão, e Luis dos Santos, Lulinha. Rubão não aceitou o convite e Lulinha por ter pouca experiência, não podia ascender à presidência. Então, consultamos Lula para que aceitasse ser meu sucessor de 1975 a 1978. Ele a princípio recusou, mas depois aceitou. Lula somente seria presidente sob duas condições: que eu estivesse permanentemente ao seu lado e desde que ele ficasse no cargo por apenas um mandato, passando o posto para Lulinha. Então, formou-se uma chapa única que venceu. Quem encabeçou a chapa em 1975 fui eu, diferente do que é divulgado. A chapa recebeu 92% dos votos. A decisão de eleger Lula, porém, foi uma determinação interna da diretoria, por minha indicação. Até 1978, dirigimos o sindicato a quatro mãos e a duas cabeças. Ele era o presidente e eu, secretário-geral, segundo cargo mais importante. À medida que ele adquiria experiência, eu ia soltando o Lula.

Opinião e Notícia – Por que Lula encabeçou a chapa de 1978?
Paulo Vidal – Em 1977, Lulinha morreu em um acidente de carro, por isso Lula encabeçou a chapa de 1978. Eu articulei tudo e coordenei a formação da chapa dele. Conforme fui soltando Lula, as esquerdas foram se apoderando dele até o absorverem. Em 1978, eu saí do Sindicato. Ele saiu do foco sindicalista e ajudou a criar o Partido dos Trabalhadores. Em dois anos, perdeu o controle do Sindicato.

Opinião e Notícia – O que você achou do filme “Lula, o filho do Brasil”?
Paulo Vidal - O Lula real é totalmente diferente do que foi mostrado. O filme é um retrato falso sobre a ascensão política sindical de Lula. O filme é mentiroso e serve a dois objetivos. Primeiro, quer desfazer o enigma de como um homem de origem humilde pode se transformar em um líder nacional e chegar à Presidência da República. A resposta dada pelo filme é a dona Lindu, que tive o prazer de conhecer, mas, com todo respeito, não tinha a menor condição de fazer isso. O filme responde que Lula conseguiu por causa da criação de dona Lindu. Mas pode-se levantar a seguinte questão: ela teve outros filhos, por que somente o Lula teve essa realização? O filme responde que Lula é um gênio, um mito, e de que não precisou de ninguém para chegar lá. É uma história mentirosa, sem sombra de dúvida. O segundo objetivo é ter fins eleitoreiros. O filme é absolutamente mentiroso e com objetivos políticos e eleitoreiros.  Ele deforma e destrói parte da história da liderança sindical no país. A verdade é que Lula aprendeu com os dirigentes, funcionários do Sindicato e, principalmente, comigo entre 1969 a 1978. Com isso, não há enigma. Se existe um criador de Lula no aspecto sindical, sou eu.

Opinião e Notícia – Compare o Lula que conheceu com o político Lula.
Paulo Vidal - Lula é uma pessoa boa e com um grande coração. É uma pessoa extraordinária, mas é refém do PT, das forças da esquerda e do poder dominante. Quando ele diz que não sabe de algo, eu acredito, pois ele viaja muito. Eu tenho um profundo carinho por ele, mas Lula é refém, escravo e beneficiário do poder dominante. Esse poder o cooptou naquela época e formou o PT, em vez de criar um sindicalismo forte.

Acreucho: Só há uma coisa em tudo isso que não acredito. Que Lula seja refém do Partido dos Trabalhadores, o criador não pode ser refém de sua criatura. Tudo que este partido já fez (de ruim) neste país têm certamente a conivência de Lula. 

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