A tempestade FHC
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso inaugura o estilo
"nem paz, nem amor": diz que topa "ir para o pau" com o PT,
chama Dilma Rousseff de "autoritária" e impõe ao PSDB
a defesa de seu legado na dispua presidencial deste ano
O discurso belicoso do ex-presidente elevou o moral da tropa. Tucanos que andavam ressabiados diante do crescimento nas pesquisas da candidata do PT, Dilma Rousseff, voltaram a bater as asas, e FHC passou a semana recebendo telefonemas de congratulações. "O presidente Fernando Henrique colocou em brios pessoas que ajudaram a transformar o país durante seu mandato. Parecia que a gente estava com vergonha de afirmar o legado do PSDB só porque o Lula está bem nas pesquisas. Isso não tem sentido", diz Arthur Virgílio, líder tucano no Senado. Até o governador de São Paulo, José Serra, candidato do partido à Presidência, enviou a FHC um e-mail dizendo que ele havia sido "muito feliz" nas suas considerações. Fernando Henrique se animou. Afinal de contas, nas duas últimas campanhas presidenciais, o PSDB parecia tentar esconder o governo dele – que, se cometeu alguns erros, colecionou acertos em número muito superior. FHC, então, decidiu aumentar o bombardeio ao inimigo. Em São Paulo, disse que a ministra Dilma não é boa candidata por não ser, sequer, uma líder. Ao jornal americano Miami Herald, classificou-a de "autoritária" e "dogmática" e acrescentou que ela poderá se aproximar do venezuelano Hugo Chávez caso vença a eleição. Os petistas estrilaram com a saraivada, mas sua candidata, desacostumada de sofrer tamanho bombardeio, limitou-se a dizer que se orgulha do governo ao qual pertence e que seu líder é o presidente Lula.
A nova fase "nem paz, nem amor" de FHC anima a militância, mas embute dois riscos para o PSDB. O primeiro é que as críticas do ex-presidente acabem, involuntariamente, aumentando a estatura política de Dilma. Por esse raciocínio, FHC deveria se confrontar apenas com Lula, que ocupa o cargo que já foi dele um dia – e não com Dilma, figura comparativamente menor, que jamais recebeu um voto na vida. O segundo risco é que, se o PSDB entrar na campanha determinado a comparar exaustivamente os resultados dos governos anteriores, estará desperdiçando um tempo precioso. Mais importante do que falar sobre o passado, é discutir o futuro. O Brasil precisa debater o que o próximo presidente da República vai fazer – e não comparar o trabalho dos que já passaram. Essa armadilha preocupa alguns tucanos, mas FHC é o primeiro a dizer que a defesa de seu governo não deve ser, nem de longe, prioridade de campanha: "Entrei nessa discussão para dar um basta às ameaças do PT. Não podemos ter receio de fazer comparações, mas é óbvio que a campanha do PSDB não é essa. Seria um erro eleitoral ficar discutindo o passado. Temos de olhar para a frente e discutir o que o Serra e Dilma podem oferecer ao país. É aí que vamos ganhar a eleição".
Nenhum comentário:
Postar um comentário