sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O labirinto do PT no pós-Lula




"Lulismo e Petismo não casam mais".

Por Fabíola Leoni e Fábio Teixeira


O Partido dos Trabalhadores (PT) passa por um dilema curioso. Enquanto o presidente da República conta com uma taxa de aprovação de 67% — segundo o Datafolha –, o partido parece estar sem rumo. Na última semana, perdeu dois senadores — Marina Silva e Flávio Arns. O PT, com Lula na presidência, parece se arrastar de crise em crise, perdendo militantes e colocando em xeque o emblema de “partido da ética”.

A alta aprovação de Lula e a situação atual do PT não são coincidências, de acordo com o professor Paulo Roberto Leal, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e autor dos livros O PT e o dilema da representação política e Os debates petistas no final dos anos 90. Na opinião do professor, um fato é consequência do outro. “Numerosos foram os episódios em que, em nome de preservar Lula e seu governo, foi o partido que pagou altas faturas políticas.”

A polêmica da reforma da previdência — que causou a saída da ala mais radical do PT –, a crise do mensalão e a atual crise do Senado seriam todas situações em que, para preservar o próprio governo, Lula sacrificou o partido. Para o cientista político Paulo Baía, a atual crise do Senado, com Lula ordenando apoio do partido a José Sarney, é prova de que o PT está “refém” do presidente.

Enquanto o lulismo existe sem o petismo, o contrário não parece possível, de acordo com Paulo Roberto. “Na verdade, nunca houve no partido uma figura capaz de rivalizar com Lula.” O professor aponta como sintoma do problema do partido a candidatura repetida de Lula à presidência desde a redemocratização. A vontade do PT de ter Lula na presidência teria, portanto, tirado credibilidade do partido, que se aliou a adversários históricos nas eleições de 2002 e novamente em 2006. “O lulismo é superior e mais amplo que o petismo. Hoje não dá para casar Lula e PT como no passado”, afirma Paulo Baía.

E 2010?

“A primeira eleição sem Lula como candidato desde a redemocratização significa o fim de um ciclo político com início em 1989”, afirma Paulo Baía. O PT terá que eleger a chefe da Casa Civil Dilma Rousseff se quiser se manter no poder. O partido terá que promover uma candidata “sem carisma pessoal e nem popularidade para a candidatura para Presidência da República”. Mesmo com a alta popularidade, Lula não conseguiu transformar sua aprovação em votos para Dilma, que apareceu com 22% de intenção de votos na última pesquisa do Datafolha, do dia 15 de agosto.

Uma vantagem de Dilma em sua campanha é a falta de oposição ao governo Lula. “Os políticos fazem tudo, menos cometer suicídio. Atacar Lula é um suicídio político”, de acordo com Paulo Baía. O PSDB, inclusive, mudou o discurso sobre o programa Bolsa Família e tem planos de ampliação do programa.

Dilma é uma escolha do Lula, segundo o especialista. O PT teve uma crise profunda com José Dirceu e Palocci, nomes que poderiam se consolidar ao longo do tempo. Se Dilma não decolar nas pesquisas, aliados como o PMDB podem “debandar”, formal ou informalmente, do apoio a ela, segundo Paulo Roberto Leal. E Paulo Baía afirma que o PMDB é uma caixa de surpresas. “É governo e apoia quem será governo. O PMDB pode fazer uma aliança formal com Dilma e Michel Temer como um nome para a vice-presidência, já que este tem características para agregar as bancadas federais na Câmara, e não no Senado.”

Para Paulo Baía, o presidente brasileiro não tem intenção de voltar em 2014, quando poderia tentar um terceiro mandato. O cientista político acredita que Lula vai tentar “saltos mais ousados”, como a busca por um Nobel da Paz. “Ele quer cuidar exclusivamente da África, a fim de salvar a população negra. É um continente que está sob os olhos de todo o mundo. Ele quer ser personalidade internacional, um avatar do povo brasileiro.”


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