sábado, 29 de agosto de 2009

Marina na Veja - Comentários


As opiniões que entremeio nesta entrevista, comentando as opiniões e respostas da senadora, são exclusivamente minhas, comento aquilo que acho que deve ser esmiuçado, aplaudo o que é pra ser aplaudido.

Veja: Se sua candidatura sair, como parece provável, que perfil de eleitor a senhora pretende buscar?

Marina: Os jovens. Eles estão começando a reencontrar as utopias. Estão vendo que é possível se mobilizar a favor do Brasil, da sustentabilidade e do planeta. Minha geração ajudou a redemocratizar o país porque tínhamos mantenedores de utopia. Gente como Chico Mendes, Florestan Fernandes, Paulo Freire, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, que sustentava nossos sonhos e servia de referência. Agora, aos 51 anos, quero fazer o que eles fizeram por mim. Quero ser mantenedora de utopias e mobilizar as pessoas.

Acreucho: Só não concordo com a senadora de colocar Lula no mesmo patamar dos outros citados. Ele é apenas um iletrado demagogo.

Veja: Sua saída abalou o PT. Além da possibilidade de disputar o Planalto, o que mais a moveu?

Marina: O PT teve uma visão progressista nos seus primeiros anos de vida, mas não fez a transição para os temas do século XXI. Isso me incomodava. O desafio dos nossos dias é dar resposta às crises ambiental e econômica, integrando duas questões fundamentais: estimular a criação de empregos e fomentar o desenvolvimento sem destruir o planeta. O crescimento econômico não pode acarretar mais efeitos negativos que positivos. Infelizmente, o PT não percebe isso. Cansei de tentar convencer o partido de que a questão do desenvolvimento sustentável é estratégica – como a sociedade, aliás, já sabe. Hoje, as pessoas podem eleger muito mais do que o presidente, o senador e o deputado. Elas podem optar por comprar madeira certificada ou carne e cereais produzidos em áreas que respeitam as reservas legais. A sociedade passou a fazer escolhas no seu dia a dia também baseada em valores éticos.

Acreucho: O PT não percebe a necessidade de tratar com seriedade o problema ambiental, porque seu único objetivo é manter o poder que adquiriu. São trabalhistas/capitalistas. Infelizmente a sociedade brasileira “ainda” não sabe escolher “valores éticos”, se soubesse, o Congresso Nacional não estaria enfrentando os problemas que está.

Veja: A crise moral que se abateu sobre o PT durante o governo Lula pesou na decisão?

Marina: Os erros cometidos pelo PT foram graves, mas estão sendo corrigidos e investigados. Quando da criação do PT, eu idealizava uma agremiação perfeita. Hoje, sei que isso não existe. Minha decisão não foi motivada pelos tropeços morais do partido, mesmo porque eles foram cometidos por uma minoria. Saí do PT, repito, por falta de atenção ao tema da sustentabilidade.

Acreucho: Não sei como a senadora pode dizer isso, os “erros graves” cometidos pelo PT não estão sendo “corrigidos” estão sendo “escondidos” e “manipulados”, investigados talvez, mas, na maioria das vezes, como com o caso Palocci, a investigação, o julgamento e a sentença são de “mentirinha”. A gente gostaria de acreditar que a senadora deixou o PT, descontente com os “tropeços morais partidários”, mas, ela nega isso, o que a coloca na situação de conivência, “quem cala consente”.

Veja: Ou seja, apesar de mudar de sigla, a senhora não rompeu com o petismo?

Marina: De jeito nenhum. Tenho um sentimento que mistura gratidão e perda em relação ao PT. Sair do partido foi, para mim, um processo muito doloroso. Perdi quase 3 quilos. Foi difícil explicar até para meus filhos. No álbum de fotografias, cada um deles está sempre com uma estrelinha do partido. É como se eu tivesse dividido uma casa por muito tempo com um grupo de pessoas que me deram muitas alegrias e alguns constrangimentos. Mudei de casa, mas continuo na mesma rua, na mesma vizinhança.

Acreucho: Era tudo que o povo brasileiro “não esperava” de Marina Silva. Está acontecendo com ela o mesmo que acontece aqui no Acre, com as “lideranças petistas”, que são na verdade pessoas “capitalistas” e que “usam” a sigla para alcançar, como disse Binho Marques, “projetos de poder”. Em outras palavras, Marina Silva está no PV para um projeto seu pessoal de “sustentabilidade”. Não romper com o petismo é o mesmo que “continuar concordando com os “métodos” que eles usam para chegar aos fins”. É sair, sem ter deixado. Igual a um casal que se separa, mas, que continua se encontrando.

Veja: No período em que comandou o Ministério do Meio Ambiente, a senhora acumulou desavenças com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Como será enfrentá-la em sua eventual campanha à Presidência?

Marina: Não vou me colocar numa posição de vítima em relação à ministra Dilma. Quando eu era ministra e tínhamos divergências, era o presidente Lula quem arbitrava a solução. Não é por ter divergências com Dilma que vou transformá-la em vilã. Acredito que o Brasil pode fazer obras de infra estrutura com base no critério de sustentabilidade. Temos visões diferentes, mas não vou fazer o discurso fácil da demonização de quem quer que seja.

Acreucho: Seria melhor que a senadora não tivesse deixado o PT nem pretendesse a candidatura a presidência, pois, passa uma imagem para o público de que sua candidatura é apenas “mais uma maneira que encontraram pra tentar dividir os votos da oposição”. Traduzindo: Uma jogada do PT. Marina não vai entrar na campanha pra valer, apenas pra desequilibrar a oposição, pois com sua entrada, outros nomes irão também concorrer. Num eventual segundo turno entre Dilma e qualquer outro, ela ficará ao lado de Dilma, isto está mais do que configurado. Possivelmente se ela não demonizar alguém, será demonizada por ele.

Veja: Um de seus maiores embates com a ministra Dilma foi causado pelas pressões da Casa Civil para licenciar as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira. A senhora é contra a construção de usinas?

Marina: No Brasil, quando a gente levanta algum "porém", já dizem que somos contra. Nunca me opus a nenhuma hidrelétrica. O que aconteceu naquele caso foi que eu disse que, antes de construir uma usina enorme no meio do rio, era preciso resolver o problema do mercúrio, de sedimentos, dos bagres, das populações locais e da malária. E eu tinha razão. Como as pessoas traduziram a minha posição? Dizendo que eu era contra hidrelétricas. Isso é falso.

Acreucho: Não foram “as pessoas” que disseram isso, não foi o povo, foi Lula e os seus próprios “cumpanheiros” de partido. E, é com esses “cumpanheiros” que a senadora pretende continuar se confraternizando?

Veja: Se a senhora for eleita presidente, proibirá o cultivo de transgênicos?

Marina: Eis outra falácia: dizer que sou contra os transgênicos. Nunca fui. Sou a favor, isso sim, de um regime de coexistência, em que seria possível ter transgênicos e não transgênicos. Mas agora esse debate está prejudicado, porque a legislação aprovada é tão permissiva que não será mais possível o modelo de coexistência. Já há uma contaminação irreversível das lavouras de milho, algodão e soja.

Acreucho: E a senadora acha que esses fatos, das hidrelétricas e dos transgênicos não serão colocados durante a campanha? Na dúvida se Marina poderá ganhar ou não de Dilma, primeiro irão tritura-la e depois assoprar pra cooptar para o segundo turno.

Veja: O que a senhora mudaria no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)?

Marina: Eu não teria essa visão de só acelerar o crescimento. Buscaria o desenvolvimento com sustentabilidade, para que isso pudesse ser traduzido em qualidade de vida para as pessoas. Obviamente, é necessário que o país tenha infra estrutura adequada. Mas é preciso evitar os riscos e problemas que os empreendimentos podem trazer, sobretudo na questão ambiental.

Acreucho: Já está irritando no discurso de Marina a palavra “sustentabilidade”, um sonho, uma utopia, como ela mesma diz, mas, que, para um país como o Brasil onde é farta a “falta de tudo”, emprego, educação, saúde, justiça, infra estrutura, é apenas uma palavra incompreendida pela maioria das pessoas.

Veja: Na economia, faria mudanças?

Marina: Não vou me colocar no lugar dos economistas. Prefiro ficar no lugar de política. Em linhas gerais, acho que o estado não deve se colocar como uma força que suplanta a capacidade criativa do mercado. Nem o estado deve ser onipresente, nem o mercado deve ser deificado. Também gosto da ideia do Banco Central com autonomia, como está, mas acho que estão certos os que defendem juros mais baixos.

Acreucho: Endeusar o mercado é tudo que o PT tem feito nestes anos de governo, Marina tem razão em dizer que o presidente não deve se colocar no lugar dos economistas, como faz Lula, fazendo de contas que entende alguma coisa do assunto.

Veja: No seu novo partido, o PV, há uma corrente que defende a descriminalização da maconha. Como a senhora se posiciona a respeito desse assunto?

Marina: Não sou favorável. Existem muitos argumentos em favor da descriminalização. Eles são defendidos por pessoas sérias e devem ser respeitados. Mas questões como essa não podem ser decididas pelo Executivo, e sim pelo Legislativo, que representa a sociedade. A minha posição não será um problema, porque o PV pretende aprovar na próxima convenção uma cláusula de consciência, para que haja divergências de opinião dentro do partido.

Acreucho: Ainda bem que Marina é “contra” alguma coisa, graças a Deus! Atualmente nem o Legislativo tem condições de decidir, por “não representar” a sociedade. Um Congresso atolado em problemas, corrupção e disputas internas, não pode representar o povo brasileiro.

Veja: Os Estados Unidos elegeram o primeiro presidente negro de sua história, Barack Obama. Ele é fonte de inspiração?

Marina: Eu também sou negra, mas seria muito pretensioso da minha parte me colocar como similar ao Obama. Ele é uma inspiração para todas as pessoas que ousam sonhar. A questão racial teve um peso importante na eleição americana. Mas os Estados Unidos têm uma realidade diferente da do Brasil. Eu nunca fui vítima de preconceito racial aqui.

Acreucho: Obama não foi eleito “por ser negro”, isso foi apenas um detalhe na eleição dele. Ele foi eleito, porque o povo entendeu que seu projeto seria o mais eficiente para tirar o país do buraco em que estava prestes a cair.

Veja: A senhora poderia se apresentar como uma candidata negra na campanha presidencial?

Marina: Não. É legítimo que as pessoas decidam votar em alguém por se identificar com alguma de suas características, como o fato de ser mulher, negra e de origem humilde. Mas seria oportunismo explorar isso numa campanha. O Brasil tem uma vasta diversidade étnica e deve conviver com as suas diferentes realidades. Caetano Veloso (cantor baiano) já disse que "Narciso acha feio o que não é espelho". Nós temos de aprender a nos relacionar com as diferenças, e não estimular a divisão. A história engraçada é que, durante as prévias do Partido Democrata americano, quando a Hillary Clinton disputava a vaga com Obama, um amigo meu brincou comigo dizendo que os Estados Unidos tinham de escolher entre uma mulher e um negro, e, se eu fosse candidata no Brasil, não teríamos esse problema, porque sou mulher e negra.

Acreucho: Mulher, negra e de origem humilde. Acho que o único adjetivo que não deveria ser usado seria “origem humilde”, elegeram um “humilde” e, chegando ao poder ele se transformou em “elite” e governa para ela. Agora, no último ano de governo, está fazendo algumas obras para o povão, pois, precisa deles para as próximas eleições.

Veja: A senhora é a favor da política de cotas raciais para o acesso às universidades?

Marina: Há quem ache que as cotas levam à segregação, mas eu sou a favor de que se mantenha essa política por um período determinado. Acho que há, sim, um resgate a ser feito de negros e índios, uma espécie de discriminação positiva.

Acreucho: Acho mais discriminatório se achar que “resgates” têm que ser feitos com os negros. Cota em universidades é algo cruel. Devem estudar as pessoas que estiverem “habilitadas” para fazê-lo. O governo deve sim promover “condições” para que os “menos favorecidos” possam disputar de igual para igual com os “ricos”.

Veja: Seu histórico médico inclui doenças muito sérias, como cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose. A senhora acredita que tem condições físicas de enfrentar uma campanha presidencial?

Marina: Ainda não sou candidata, mas, se for, encontrarei forças no mesmo lugar onde busquei nas quatro vezes em que cheguei a ser desenganada pelos médicos: na fé e na ciência.

Acreucho: Marina Silva está equilibrada e, cônscia da responsabilidade que tem para com a sociedade com relação a sua possível candidatura à presidência. O tema Preservação Ambiental e Sustentabilidade é, e será o mote de sua campanha. Ela deve estar ciente de que estará falando para uma minoria da população e indo de encontro a tudo que tem sido pregado pelo seu ex-partido, o PT, nestes anos de governo. Desenvolvimento e governabilidade à qualquer preço, com qualquer ligação e com qualquer um, fazendo “qualquer negócio”.

Ela deve saber que vai desagradar a agro-empresários e pecuaristas, duas classes muito fortes politicamente neste país e que o empresariado ficará, como sempre, “em cima do muro”, vendo para que lado cai o dinheiro. Seu novo partido, o PV, tem ligações com deuses e diabos. Ela terá que conviver com isso e, não só conviver, mas, caso seja eleita, fazer “vista grossa” a muita coisa em nome da “governabilidade” do Brasil. Governabilidade é um termo muito apreciado por corruptos de todo tipo.

À bem da verdade, a vitória de Marina Silva para a Presidência do Brasil é “a utopia da utopia”.

Em termos gerais a possibilidade é ínfima, não pela “falta de capacidade dela”, porque isso ela tem de sobra e a sua reserva moral e ética, ninguém discute, mas, pelo “tema” abraçado por ela, que é um assunto que interessa a poucas pessoas, infelizmente. Intelectuais, cientistas, estudantes e alguns dirigentes mundiais se interessam pelo assunto, já políticos, empresários, agricultores, criadores de gado, mineradores e afins, abominam o tema. O povo, pouco ou quase nada sabe a respeito e, é neutro na questão. No Brasil é fácil falar em Preservação do Meio Ambiente para pessoas com “barriga cheia”. Quero ver alguém com a barriga vazia, morando num barraco fétido e sem emprego se interessar pelo assunto.

Gostaria de poder “desejar sorte” à senadora, mas, infelizmente apesar de me preocupar com o meio ambiente e a preservação, estamos de lados opostos na luta pela presidência. Se ela tivesse alguma antipatia por Lula e seus sequazes e quisesse tirá-los do poder ao invés de confraternizar com eles, teria a minha simpatia!


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