Escrito por: Luiz Leitão, articulista do Opinião e Notícia
Medido com a régua dos padrões éticos de razoável parcela dos congressistas brasileiros, o terremoto que sacudiu o Parlamento Britânico - cujo epicentro foi a orgia generalizada de gastos indevidos de dinheiro público patrocinada por substantiva parcela de seus membros -, não seria motivo de tamanho alvoroço ao ponto de causar a queda de Michael Martin, presidente da Câmara dos Comuns - a ultima defenestração de um presidente da Câmara foi no longínquo ano de 1695.
A opinião pública inglesa é implacável com desvios éticos, mesmo aqueles considerados “menores”, aceitáveis porque “todo mundo faz”, ou por não serem explicitamente proibidos, a não ser pelo bom senso. Chocada, envergonhada do comportamento de seus representantes, a nação ouviu da ruborizada classe política pedidos de desculpas acompanhados da devolução dos recursos malbaratados, inclusive em anos passados.
David Cameron, líder da oposição, fez uma observação precisa: “Essa crise foi causada pelos políticos, por isso não acredito que os políticos possam resolvê-la sozinhos - o público tem de se envolver. Quero o envolvimento do maior número de pessoas possível, sejam partidários dos trabalhistas, dos liberais ou de nenhum deles”.
Cameron quis dizer que os políticos não podem solucionar a crise sem ouvir os seus representados, sem encurtar a distância que os separa tanto da realidade quanto do eleitorado. Essa sábia a até banal alocução se encaixa perfeitamente à realidade do Parlamento brasileiro, e não deixa de ser uma lição, quiçá um alerta.
Se aqui no Brasil um episódio praticamente idêntico ao que colocou em polvorosa a Câmara dos Comuns na Grã Bretanha não causou a cassação de um mísero deputado do baixo clero sequer, que dirá a queda do homólogo de Michael Martin, o deputado Michel Temer (PMDB-SP) cuja responsabilidade pelos escândalos é ainda mais inegável depois de ele ter concedido uma exorbitante anistia ampla, geral e irrestrita aos autores de abusos passados, ele incluído.
Diante do que escreveu o colunista Simon Jenkins, do jornal inglês The Guardian, “Este escândalo sem precedentes nas despesas dos parlamentares britânicos é digno de uma república das bananas” — nós, brasileiros, podemos vestir a carapuça, não só porque aqui os escândalos são recorrentes e acometem os Três Poderes, mas também por sabermos que eles se repetirão, pois o peso de nossa lixada opinião pública não é nem de longe comparável à dos britânicos.
Lá, os políticos sabem que dependem de uma imagem incólume para sobreviver; aqui, como cristalinamente demonstrado nas declarações, algumas desconexas, de deputados e senadores “ofendidos”, vítimas, segundo eles, não das próprias mazelas, mas das perfídias da imprensa, não há por que se preocupar com eventuais aranhões em suas imagens. Eles são tantos que um risco a mais ou a menos não será notado.
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