terça-feira, 5 de maio de 2009

Há cinquenta anos!

CRUZADA CONTRA A IMPUNIDADE

Publicado há cinqüenta anos!

Por DAVID NASSER - Jornalista e Compositor

Comece a luta dentro de sua casa. Chame as suas filhas, os seus filhos, tôda a família, para uma conversa, e diga-lhes que não esperem muito senão de si mesmos. Que a impunidade é a resposta que nesta terra se dá a tantos crimes contra a vida, contra a honra, contra o patrimônio. Mata-se no Rio de Janeiro, em um mês, duas vêzes mais que em Londres, em um ano. A vida de um ser humano, na Capital brasileira, é a única mercadoria deflacionária: vale apenas um pedaço de chumbo. Os bandidos cortam a barriga de um pobre chefe de família que volta para casa, roubam-lhe os embrulhos, e, sorrindo, deixam o infeliz estirado numa poça de sangue. Casais são assaltados e levam tiros no rosto. A violência, o latrocínio, a morte fria campeiam impunemente pela cidade - e não se vê uma atitude decisiva, um grito de advertência, como se estivéssemos acostumados a isto, como se tudo fôsse natural. A impunidade forja os maus exemplos. Novos bandidos surgem. Novas quadrilhas de marginais se formam - e a impunidade continua. O Chefe de Polícia pode fazer justiça, fazer limpeza, livrar a cidade de assassinos irrecuperáveis - mas, apenas os assassinos que vieram dos morros, que vieram da sarjeta, que vieram do SAM desaparecem. Os abastados ficam.

Os mocinhos, filhos de pais ricos, que se divertem com a honra das meninas inexperientes, que se valem do dinheiro dos pais, do dinheiro que lhes dará a impunidade quando se tornar necessário. (E quase nunca se torna necessário, a não ser quando as coisas se agravam, como no caso Aída Cúri.)

Dedicamos esta reportagem, primeiro às mocinhas, mesmo às mais sensatas, lembrando que a virtude precisa ser protegida. Depois, aos pais de família, para que conheçam os perigos que suas filhas (e os seus filhos) correm todos os dias, tôdas as noites nesta cidade. Ao Presidente da República, que, afinal, também tem filhas, e sabe o que isto representa. Finalmente, aos juízes íntegros, para que não deixem impunes tais crimes, a fim de que, exausto, cada pai de família atingido não venha a fazer justiça com as suas próprias mãos.

Do Blog: O texto, com erros, pois, está na íntegra e a ortografia era outra, faz parte de uma reportagem publicada na Revista O Cruzeiro nos idos de 1959, há cinqüenta anos atrás. O mundo não mudou muito, de lá para cá, até os personagens são praticamente os mesmos: os pobres, pais e filhos, bandidos, marginais, filhinhos de papai. Um verdadeiro “dejà vu”.

Nada mudou. Os políticos não fazem nada, (a não ser desperdiçar o dinheiro público); a polícia não faz nada, (está desaparelhada e sem condições psicológicas e físicas para combater o crime); o Poder Judiciário quase nada pode fazer, prende e solta, prende e solta (nossas leis são dos anos 40 e o Código Penal cheio de furos, qual peneira); a sociedade, tranca-se dentro de suas casas, protegidas por grades, cadeados e cercas elétricas, (os que tem condições) onde são prisioneiros no lugar dos bandidos.

Vivemos num Brasil onde um Quarto Poder, “a bandidagem”, manda mais que o governo, tira e põe, elege e destitui. Este quarto poder não é formado pelos “aviões” e “mulas”, nem pelos “ladrões de galinhas”, nem pelos “batedores de carteiras”, o quarto poder está nas mãos dos poderosos, daqueles que manipulam os outros poderes, que são intocáveis, que estão imiscuídos dentro dos próprios poderes. Poucas pessoas acreditam nisso, ninguém investiga, ninguém vai atrás, ninguém quer se envolver. Enquanto isso a sociedade, da mesma maneira que há cinqüenta anos, sofre, sem uma solução, sem quem a proteja. 

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