segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Vôo 3054...acidente ou crime?

Acho que agora, que embolaram o meio de campo, está difícil a gente saber alguma coisa, é um jogo de empurra, empurra, ninguém quer ser o dono da culpa. Tem os cínicos que querem colocar a culpa de tudo no piloto, porque ele não tem mais como se defender, a TAM quer tirar o dela da reta, o governo, acha que não tem nada a ver com isso.
Colocarei abaixo algumas considerações para que pensemos e raciocinemos a respeito desta tragédia que entristeceu o país inteiro.
Quem é o culpado ou culpados pelo acidente com o avião da TAM, afinal de contas?
Os pilotos? A TAM? O governo? O aeroporto de Congonhas? A chuva? Os funcionários do governo? O papa?
Ninguém quer ser culpado pelo que aconteceu com o airbus da TAM. Ninguém quer assumir a responsabilidade de ter ceifado a vida de quase duzentas pessoas, inocentes.
Vamos analisar por partes.
Os pilotos:
Não eram novatos, ambos tinham quinze mil horas de vôo, muita experiência, eram pessoas equilibradas e acostumadas com o trabalho que estavam efetuando. Segundo declararam seus parentes, não tinham problemas emocionais, nem estavam em nenhuma crise existencial. Eram profissionais competentes, executando uma tarefa para a qual estavam habilitados. Para pessoas razoavelmente esclarecidas, fica difícil acreditar que profissionais deste quilate, cometeriam um erro absurdo como o que estão querendo que eles tenham cometido. Mas eles não estão mais aqui para responder sobre o que aconteceu e nem assumir essa responsabilidade. Seria desumano da parte de qualquer analista, jogar a culpa nos pilotos, eles também foram vítimas. Algo aconteceu que deixou a aeronave fora de controle e propiciou o acontecimento. Pode-se imaginar tudo, menos falta de habilidade dos pilotos. Mas cada um pensa o que quiser.
A TAM:
Há relatos de pilotos, a respeito de sobrecarga de horários de trabalhos, desmentidos pela companhia, há relatos de pilotos sobre pequenos defeitos nos aviões, que não são prontamente solucionados, há uma série de coisas que seriam de responsabilidade da companhia.
Outro dia mesmo, um avião da TAM, estava “preparado” pra levantar vôo do aeroporto de Londrina no Paraná, só não o fez por causa das péssimas condições meteorológicas no momento, com um dos alçapões de uma das turbinas, “fechado” com fita adesiva, justamente um destes airbus, igual ao que se espatifou em Congonhas. O próprio avião que caiu, estava com defeito no reverso da turbina, aparato que ajuda a frear a aeronave. Embora se diga que um avião pode “perfeitamente”, voar com defeito no reverso, isso é condenado pela empresa fabricante da aeronave, em um avião, todos os equipamentos são necessários, claro que todo mundo sabe que um avião pode "voar", com o reverso defeituoso, ele terá é dificuldades para "parar" sem o reverso. Devemos nos lembrar que não estamos lidando com uma bicicleta, que pesa alguns quilos, estamos lidando com uma aeronave que pesa sessenta toneladas e com um aeroporto que tem difícil operação sob condições adversas de clima.
O que seriam estas coisas? Esses “pequenos” desleixos da companhia, a respeito da manutenção dos aviões.
Se analisarmos friamente a questão, veremos que a companhia certamente, não tem um sistema de prevenção de segurança em vôo, se tivesse, o avião não iria para o ar com defeito, por menor que ele fosse, nem se preocupa muito com isso. Colocar no ar uma aeronave do porte de um airbus, com defeito no reverso, é perverso, desculpem o trocadilho.
Mas o que são 200 vidas humanas?
O lucro das empresas está acima de tudo, o lucro é o que importa. Há o seguro para pagar todos os prejuízos, tudo será coberto, como disse friamente o presidente da Companhia.
Não há dinheiro que pague o que as famílias perderam.
Não conheço bem o assunto, mas imagino que deva haver alguém que fiscalize as aeronaves antes delas irem para a pista e dê o aval de que tudo está em ordem, que a aeronave está com tudo checado e funcionando, que não há qualquer perigo para o vôo, a não ser um imprevisto.
Será que isso não existe? Se não existe, deveria existir.
A gente paga muito caro, pra voar neste país. Muitas vezes pagamos com a própria vida, como no caso dos passageiros e tripulantes do vôo 3054.
Nem o presidente da Companhia, nem o gerente da filial, nem o gerente do aeroporto, deveriam ter autoridade sobre as aeronaves em solo, deveria haver alguém que pudesse liberar ou não, sem se importar com as conseqüências, primando sempre pela segurança. Se isto existe, podemos começar a resolver o mistério do vôo 3054, argüindo o funcionário que liberou a aeronave com defeito.
O Governo:
O governo é responsável pelo que em um aeroporto?
Pelos funcionários da Infraero, que comanda os aeroportos em todo o país, ou melhor, que administra, para que dê lucro, nada mais é importante, só o lucro. Falo isso porque no caso do Aeroporto de Congonhas, foram feitas recentemente, antes do re-capeamento da pista, obras de infraestrutura para melhorar o atendimento ao público, melhoraram as salas, as lojas (que dão lucro), o estacionamento, que é pago e dá lucro, porém o quesito segurança foi relegado para segundo plano, muito embora houvesse inúmeros relatórios de pilotos sobre as difíceis condições de pouso e decolagem em Congonhas e até diversos incidentes, principalmente em dias de chuva.
O que fazem estes funcionários da Infraero, além de tratarem mal aos passageiros? Quando somos maltratados nos guichês das companhias, não adianta reclamar com a Infraero, eles fazem ouvidos moucos e fica por isso mesmo.
A Infraero, tem por responsabilidade zelar pelo bom funcionamento e manutenção dos aeroportos em todo o Brasil, tem por missão fiscalizar, fazer cumprir, punir e providenciar para que a infraestrutura dos aeroportos esteja em perfeitas condições para atender aos passageiros.
Há muito tempo que os pilotos reclamam das péssimas condições de pouso em Congonhas, já aconteceram inúmeros acidentes ou “quase acidentes”, há inclusive relatos de que muitos “quase acidentes” nem são relatados, nem divulgados.
Não seria missão da Infraero, fiscalizar e manter em bom funcionamento todos os equipamentos do terminal, checar para que tudo esteja funcionando corretamente, que nenhum equipamento de auxílio ao vôo esteja com defeito ou funcionando duvidosamente, se ocorresse tal coisa, não deveria providenciar a substituição?
A Infraero é pra cuidar dos aeroportos, mas tornou-se um cabidão de empregos.
Dizem as comadres deste país, que se houver uma CPI da Infraero, a coisa será mais feia do que o mensalão.
Bem, segundo o que veio à tona com o caos aéreo, vê-se que a Infraero, absolutamente não tem cumprido com as suas atribuições. Tem parte da culpa sim, no acidente do vôo 3054, por ser relapsa em seus deveres.
Outro dia ouvi uma notícia de que a Infraero iria começar uma operação “tapa buracos” no Aeroporto de Cumbica. Inacreditável! Inaceitável! Aonde já se viu um aeroporto internacional com buracos na pista de pouso? Só no Brasil mesmo.
O governo tem culpa, porque é ele quem é responsável pela Infraero, é quem indica o presidente e onde estão lotados, grande número de “afiliados” dos políticos.
O Aeroporto de Congonhas:
Embora passando por diversas reformas e maquiagens, o Aeroporto de Congonhas já é um senhor de setenta anos de idade. Tendo passado por diversas melhorias, principalmente na parte estética e de conforto para os passageiros e no setor comercial, apresenta diversos problemas com relação à segurança para pousos e decolagens, detectadas pelos pilotos que ali operam.
Quando foi construído, há setenta anos atrás, a área era deserta, estava num descampado, pouco ou quase nada havia em volta do aeroporto, mas, com o passar dos anos, com o crescimento da cidade e a especulação imobiliária, somado ao desleixo dos governos que não ficaram atentos ao crescimento da cidade em volta do aeroporto, ele foi sufocado, o que transformou o aeroporto de Congonhas numa ilha, cercada de cidade por todos os lados, colocando em risco, não só as aeronaves que ali pousam, mas a vida de quem vive e trabalha ali em volta, prova está no que aconteceu com o vôo 402 da própria TAM, cujo avião caiu sobre as casas matando 99 pessoas e destruindo parte de um bairro, em 1999.

Suas pistas são curtas para os padrões das aeronaves modernas, quando foram construídas, certamente eram exatamente o que se necessitava para os velhos aviões do passado.
Com o avanço da cidade sobre o aeroporto, ficou impossível, a ampliação das pistas, visto que tudo em volta é comércio, residências ou avenidas.
Esta situação, de estar o aeroporto de Congonhas praticamente no meio da cidade de São Paulo, é culpa única e exclusiva dos governos que passaram, falta de planejamento e estratégia. A não previsão do crescimento da cidade e principalmente, a ganância da especulação imobiliária.
Em vista disso, o Aeroporto de Congonhas é um aeroporto “sem saída”, ou seja, não tem para onde ser ampliado, uma de suas cabeceira termina numa grande avenida a outra num bairro residencial.

Não há onde fazer mais obras em Congonhas. Seu futuro é a provável diminuição gradual do movimento, até tornar-se mais um aeroclube.
Por não ser possível corrigir erros de planejamento, ocorridos na construção, pois, não foram programadas, áreas de escape, nem terreno para futuras ampliações da pista principal.
Quem pensou o Aeroporto de Congonhas, há setenta anos atrás, nem de longe, imaginava São Paulo como ela é hoje, faltou criatividade e senso crítico, planejou um aeroporto para o movimento daquela época.
Se a pista principal de Congonhas tivesse mais quinhentos metros de extensão, ou se depois do término da pista não houvesse mais nada, fosse apenas campo, a tragédia talvez não tivesse acontecido ou pudesse ser muito menor.
Se houvesse áreas de escape, feitas com falso concreto, que se esmigalha e afunda as rodas quando o avião sai da pista e passa por cima delas, este desastre poderia ter sido evitado, inclusive a aeronave não teria sido perdida.
O problema é que um avião, qualquer um, depois de tocar a pista em Congonhas, ou pára ou não tem para onde ir, não há solução no caso de dificuldades no pouso, foi o que aconteceu com o vôo 3054. Em Congonhas os pilotos trabalham no limite e todo limite é risco extremo, principalmente em aviação.
Enfim, o Aeroporto de Congonhas pode ser considerado atualmente, em vista do crescente desenvolvimento da aeronáutica, com aeronaves cada vez maiores e mais pesadas, obsoleto, não há o que fazer com ele, a não ser que fossem feitos grandes investimentos em desapropriações, o que dificilmente será a solução.
A chuva:
A chuva, sempre foi um problema em Congonhas, isso todo mundo sabe, pilotos, funcionários, passageiros, governos Federal, Estadual, Municipal. Qualquer chuvisco, já fecha o aeroporto. As poças dágua na pista, sempre dificultaram o trabalho dos pilotos, colocando em risco a vida dos passageiros. Diversos acidentes já aconteceram e inúmeros “quase acidentes”. Com a reforma da pista principal, imaginava-se melhorar essa performance, mas o que aconteceu foi uma tragédia, que abalou a sociedade brasileira.
Os funcionários governamentais que pululam pelo aeroporto:
Quem deixou um avião do porte do airbus A320, sair do solo, com um dos reversos com defeito?
Mesmo que o equipamento chamado reverso fosse irrelevante para parar o avião, o que não é, a aeronave não poderia sair do chão com um defeito desses, deveria ter alguém que fiscalizasse, que impedisse isso de acontecer.
Qual funcionário liberou a pista de Congonhas, recém revestida, sem “cura” e sem as ranhuras (grooving) de escoamento dágua para funcionar normalmente?
Quem foi o “responsável” pela vistoria, minutos antes do acidente, sobre as condições da pista quanto ao acúmulo de água e disse que tudo estava normal?
Se não havia água na pista, o que é então, que a gente vê no vídeo da câmera de segurança do aeroporto, saindo debaixo do avião, quando da sua passagem, seria pipoca, ou açúcar, talvez fossem as lágrimas das famílias enlutadas com a tragédia, ou talvez a preguiça de algum funcionário relapso.

Onde estavam os supervisores de tráfego aéreo, os controladores, os chefinhos disto ou daquilo, que deveriam ter o controle do aeroporto em suas mãos, mas não têm, ficam em suas salas aquecidas ou refrigeradas olhando seus gordos contra-cheques.
O caso é o seguinte:
O avião da TAM se espatifou por um conjunto de erros.
O erro do piloto, não foi um erro técnico, como querem fazer parecer, mas um erro de avaliação. Certamente pressionado, aceitou voar em uma aeronave que se sabia com defeito, outros pilotos que tinham operado a aeronave no dia anterior e no mesmo dia do acidente, tinham registrado ocorrências a respeito do reverso quebrado ou pinado como eles dizem. O presidente da TAM sabia, os mecânicos sabiam, todos que estavam envolvidos na operação da aeronave sabiam que o reverso não estava funcionando. O piloto, deveria ter-se negado a pilotar o avião avariado e relatado o fato ao sindicato da sua categoria, que o apoiaria. Mas não o fez. Por medo de perder o emprego, perdeu a vida.
Conseguirão dormir tranqüilos o mecânico e o supervisor de oficina da TAM, que autorizaram a “pinagem” do reverso da aeronave ao invés de fazer o conserto ou deixarem o avião em solo até o reparo?
Quem será o irresponsável, que manda colocar no ar um avião com um defeito no sistema de frenagem? Foi criminosa a atitude de fazer voar um avião enorme como um airbus A320, com problemas no sistema que pára a aeronave.
A empresa fabricante da aeronave, recomenda a utilização dos dois reversos, eles são essenciais nos pousos em pistas curtas. Mesmo que os pilotos fossem habilidosos, mesmo que a pista não tivesse problemas, é criminoso colocar pra voar um avião com qualquer defeito que seja, mesmo em um simples parafuso do banheiro, imagine com defeito nos freios.
Mais erros, desta vez do governo, por não manter fiscalização, com poderes de vetar o uso, no caso de qualquer problema com o avião, se existe esta fiscalização, pode procurar que tem corrupção no meio.
Desleixo do governo, porque todo mundo sabe que a pista de Congonhas é perigosa, escorregadia e fica no meio da cidade, já deveria ter sido desativada e mudado o aeroporto para outro local há mais de vinte anos.
Erro da direção da TAM, que por ganância, mantém no ar uma aeronave com defeitos técnicos, um avião não é um brinquedo.
Há muitos dias venho analisando as notícias e acompanhando os fatos e não poderia deixar de fazer a minha análise, não técnica, pois, não sou técnico no assunto, apenas tenho olhos, ouvidos e minha mente pensa e as perguntas estão aí para serem respondidas por quem tenha as respostas.
As caixas pretas podem dizer o que quiserem, que o manete estava assim ou assado, que foi isso ou aquilo, acredito em erro técnico não em erro pessoal dos pilotos, eles foram induzidos ao erro, o próprio computador do avião e ele tem 34, pode por causa da “pinagem” do reverso, ter sido induzido ao erro, recebendo um comando e executando outro.
Se alguém tiver respostas para todas as perguntas que fiz acima, certamente teremos não um culpado pelo acidente, mas vários culpados e todos merecerão cadeia. Mas os culpados não precisam ficar preocupados, estamos no Brasil.
A culpa de todas essas culpas e erros é de quem governa o país, que não tem pulso pra fiscalizar nem punir.

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