domingo, 23 de agosto de 2009

Acinte: Lula discursa em apoio a Evo na região que alimenta o narcotráfico do Brasil. E até usa um colar de folhas de coca

Reinaldo Azevedo

No Estadão.

O evento para a assinatura de atos entre Brasil e Bolívia, com a presença dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Evo Morales, tornou-se ontem um comício a favor da reeleição do boliviano, numa das maiores regiões produtoras de coca do planeta. No encontro, que reuniu cerca de 5 mil pessoas, Lula chegou a vestir rapidamente um colar feito de folhas de coca, produto tradicional das comunidades indígenas da Bolívia, considerada o país mais pobre da América do Sul.

Evo aproveitou a presença de Lula em seu reduto político, incrustado na selva, para demonstrar força e prestígio no momento em que busca se reeleger - haverá eleições presidenciais em outubro. O cenário escolhido, uma cidade de 2.500 habitantes, fica na região de Chapare, conhecida pelo refino e pela “exportação” de cocaína, especialmente para o Brasil, principal mercado consumidor, segundo autoridades bolivianas. A Bolívia é a terceira maior produtora mundial de cocaína, atrás de Colômbia e Peru.

No comunicado conjunto divulgado pelos dois países, há menção sobre o combate ao narcotráfico. No documento, os presidentes “expressaram satisfação com os resultados concretos do processo de intensificação e aperfeiçoamento da cooperação policial entre os dois países.” Também determinaram que a Polícia Federal brasileira e a Força Especial de Luta contra o Narcotráfico da Bolívia prossigam “ampliando a cooperação bilateral, inclusive por meio de instrumentos jurídicos e logísticos necessários a ações mais efetivas nesse contexto”.

Comento
As oposições, acho, não farão como eu gostaria que se fizesse: pegar as imagens e o noticiário do dia de ontem e editá-lo ao lado dos presuntos produzidos todos os dias nos morros do Rio e nas periferias das grandes cidades. Vítimas do narcotráfico. Também não se atreveriam a juntar essas duas coisas à resistência brasileira em classificar as Farc - aliadas de Chávez, que é aliado de Evo Morales - como narcoterroristas.

Não! Não estou sendo sub-reptício ou oblíquo. Não estou ligando o PT ao tráfico de drogas. Se soubesse algo, diria - e sugiro que vocês não o façam nos comentários, ou teria de excluí-los. Estou afirmando, isto sim, que, em nome de afinidades ideológicas - com Evo, Chávez, Rafael Correa e as Farc -, o governo petista se torna um ALIADO OBJETIVO do narcotráfico, que responde por boa parte dos 50 mil homicídios que ocorrem por ano no Brasil. Um verdadeiro flagelo.

Lula quer ir lá fazer onda com Evo Morales? Vá lá. Mas realizar o encontro numa das regiões que respondem por boa parte da cocaína que se trafica no Brasil? Não! Aí já é acinte mesmo! A área destinada ao cultivo de coca na Bolívia cresceu. O país perdeu um incentivo concedido pelos EUA para a exportação de produtos bolivianos. Evo, na prática, se nega a combater o narcotráfico. A decisão foi de Jorjibúxi. E São Obama teve de referendar.

E Lula, para variar, não se conteve. Apelou à demagogia barata - e, lamento dizer, à mentira - para falar de si mesmo e de Evo: “O índio tem de provar que tem competência para governar, sindicalista tem de provar que tem competência para governar. Enfrentamos os preconceitos. Enfrentamos a ira dos poderosos que não se conformaram em perder o poder.”

É… No Brasil, Lula resolveu enfrentar a “ira dos poderosos” ao lado de patriotas como José Sarney, Renan Calheiros e Fernando Collor. Na Bolívia, Evo preferiu os que fazem bom uso do processamento das folhas de coca, cuja produção ele estimula. Acaba de criar uma nova região de incentivo à planta - desta feita, na fronteira com o Brasil.

Agora só falta Lula discursar no reduto de “importadores” de carros brasileiros no Paraguai e de exportadores de “tabaco paraguaio” para o Brasil…

Ah, sim: só para não perder a viagem, usaria também algumas imagens da Petrobras sendo ocupada - depois, foi expropriada, roubada mesmo - pelos trogloditas de Evo. E também não me esqueceria de mostrar o tratamento que fazendeiros brasileiros têm recebido dos evistas: incêndio de plantações, roubo de tratores, ameaça de expropriação.

Não vou dizer que Lula, agora, foi longe demais. Porque tudo lhe é permitido. E tudo lhe permitem. Ele sapateou sobre alguns cadáveres e a dor de suas respectivas famílias ao discursar onde discursou.


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